Foco
Contrariando 'premonição', avião que cairia na Paulista pousa sem problemas
Na fila de embarque, um funcionário da TAM deseja boa viagem. "Será que o avião chega?", pergunta o contador Douglas Favero, 34. "Chega aonde?", também pergunto, forçando um sorriso. "Em uma hora e meia vocês estão em Brasília, fiquem tranquilos", acalma o funcionário.
O voo 4732 tem dois destinos. O oficial: Brasília. O desastroso: chocar-se contra um prédio da avenida Paulista, na região central de São Paulo, conforme previsto pelo autointitulado vidente Jucelino Nóbrega da Luz, 54.
Minutos depois, a aeronave --um Airbus 319-- começa a decolar. Entre os passageiros, que ocupam metade das poltronas, a conversa é uma só: a profecia de Luz.
"Não sou nada supersticioso, mas é aquela frase: não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem. Quem aqui não está nervoso?", diz o economista Rodrigo Moraes, 34, que viaja de avião toda semana, a trabalho.
Na decolagem, ele rói as unhas, mexe na aliança e coloca, por dois minutos, os óculos escuros que guardava na bolsa. "Evitei ao máximo esse voo, mas não teve jeito. Nem avisei minha mulher", diz ele, que caiu no voo da TAM porque outro, da Avianca, havia sido cancelado.
Assim que o avião sobe, a cidade desaparece embaixo das muitas nuvens. Se caísse na capital, era mais provável que batesse em algum prédio da avenida Luiz Carlos Berrini, principal via naquela área.
"A rota nem passa pela Paulista, viramos à esquerda", explica Ruy Amparo, vice-presidente de operações da TAM, que estava no voo.
SUSPENSE
O avião não caiu (caso contrário, o texto aqui seria outro), mas o pouso, previsto para as 10h12, atrasou.
Segundo o copiloto, Rodrigo Granha, o tráfego em Brasília estava intenso. "Teremos que sobrevoar Ribeirão Preto por 20 minutos até chegar a nossa vez", disse no sistema.
"Temos combustível suficiente", avisou depois.
"Fiquei sabendo ontem da previsão, minhas sobrinhas tentaram mudar meu voo, mas não deixei. Não tenho medo", disse Helena Bittar, 74, que mora em Brasília e passava alguns dias na casa de parentes em São Paulo.
"Meus amigos até pediram para tirar uma última foto comigo", conta o comissário Aderizio Gonçalves.
Segundo Amparo, a TAM não tomou nenhuma medida diferente para o voo. Ele negou que a companhia aérea tenha trocado o avião, como afirmou Luz na terça (25).
Mas a aeronave era a mais nova da frota da empresa no modelo Airbus 319. "Coincidência. Não dava tempo de a gente fazer esse tipo de escolha", diz o executivo.
Na semana passada, a TAM alterou o número do voo. "Eles podem falar o que quiserem, mas, se não acreditassem [na previsão], não teriam mudado", afirma Luz.
CHEGADA
Depois de o avião pousar em Brasília, um humorista da TV bate palmas, tentando puxar um aplauso. Poucos passageiros aderem, no entanto.
"Dessa vez, nós nos safamos", diz Helena, que pega a mala e vai embora.