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Viciados da cracolândia são os 'excluídos dos excluídos'

Pesquisa Datafolha revela quem são e como vivem os usuários de crack

Maioria apresenta dados socioeconômicos abaixo dos da média da população paulistana; 77% deles vivem na rua

VAGUINALDO MARINHEIRO
DE SÃO PAULO

O viciado em crack tem uma vida desestruturada porque consome a droga ou consome a droga porque tem uma vida desestruturada?

A resposta pode variar de pessoa para pessoa, mas uma pesquisa Datafolha feita com frequentadores da cracolândia, no centro de São Paulo, não deixa dúvidas: a grande maioria apresenta dados socioeconômicos bem abaixo dos da média da população.

Podem ser chamados de os excluídos entre os excluídos.

Na questão do emprego, 27% não têm trabalho e nem procura um. Na população em geral, a taxa é de 3%.

Quem diz trabalhar faz bico (45% contra 17% na média em São Paulo): recolhe material na rua para revender, guarda carros ou é prostituta.

Os craqueiros da rua têm menor escolaridade: 64% concluíram no máximo o ensino fundamental e apenas 6% têm nível superior.

A média entre moradores de São Paulo é diferente: 17% concluíram uma graduação.

"Aquela imagem do engenheiro que perdeu tudo e foi morar na cracolândia é a raridade da raridade. A droga é efeito, não causa da exclusão. A pessoa já vive excluída socialmente, e sua miserabilidade faz a droga florescer. Há uma grande diferença entre o usuário ocasional e o dependente. Para o segundo, a droga, seja álcool, seja crack, não é recreacional, é fuga", afirma o psiquiatra Dartiu Xavier, do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Unifesp.

É o mesmo que acredita Maria Stela Graciani, cientista social que coordena o Núcleo de Trabalhos Comunitários da PUC-SP.

Ela desenvolve trabalhos educativos na cracolândia e afirma que a grande maioria está lá por não ter opção.

"Eles não têm família ou estavam em famílias com muitos problemas", diz.

Segundo Maria Stela, muitos são os meninos abandonados que há anos cheiravam cola nas ruas do centro.

Números do Datafolha ajudam a corroborar a tese: 77% dos frequentadores da cracolândia moram nas ruas e 20% estão nesta situação há mais de dez anos.

Não que todo viciado em crack seja indigente, como a maioria da cracolândia.

A droga chegou também às classes média e alta, afirma a psicóloga Cristina Greco, que trabalha com dependentes e familiares há 24 anos.

"Essas pessoas não estão nas ruas porque têm condições de pagar um tratamento ou famílias que as amparam. Tenho uma paciente que passou por 29 internações. Foi um processo doloroso de recaídas, mas está agora há cinco anos sem usar nada."

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