Interesse de aluno explica alta, diz educadora
Para Priscila Cruz, 39, diretora-executiva do movimento Todos pela Educação, o aumento da participação das escolas públicas entre as melhores do Enem representa maior interesse dos alunos pelo exame, que se tornou a principal forma de acesso ao ensino superior.
Não indica, portanto, um avanço do ensino público.
Levantamento da entidade com base em avaliações federais da educação básica mostra que, em 2013, o total de alunos do 3º ano do ensino médio com conhecimento adequado de português e matemática caiu em relação a 2011.
A entidade reúne empresários, educadores e gestores da área. Leia mais a seguir:
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Folha - O que indica o aumento da participação das escolas públicas no topo do Enem?
Priscila Cruz - O Enem não é desenhado para medir a qualidade da escola, mas o desempenho do aluno. Para avaliar o ensino médio, o melhor indicador é o Saeb/Prova Brasil [avaliações federais da educação básica]. E os últimos resultados mostram exatamente o contrário, que o nível de proficiência dos alunos nessa etapa tem caído.
Assim, esse aumento me parece ser reflexo dessa política conjugada que usa o Enem na seleção.
Programas como o Prouni [que dá bolsas em faculdades privadas], Fies [financiamento estudantil] e Ciências Sem Fronteiras, além das cotas, formam um pacote de políticas voltadas para o estudante de ensino público que passou a ter a faculdade como perspectiva. Isso fez com que esses alunos entrassem na corrida por melhores notas.
Por que o ensino não acompanhou esse avanço dos alunos?
Se o ensino médio fosse uma etapa pensada para fazer com que todos alunos aprendam, com um desenho específico para atender a juventude, esse avanço seria maior.
Mas são muitas disciplinas obrigatórias espremidas em quatro horas [por dia], muito ensino noturno. Imagina o efeito desse conjunto [de políticas para o desempenho do aluno] se o ensino médio fosse diferente?