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Bichos

SÍLVIA CORRÊA - correa-silvia@uol.com.br

Todos contra a crueldade

Manifeste-se, indigne-se, reaja, denuncie, porque a omissão também é uma forma de violência

Foi notícia em toda a parte: uma gaúcha de cinquenta e poucos anos, em férias no litoral paulista, arremessou pela janela do 10º andar seus dois cães de estimação. Eles tinham seis e 16 anos, respectivamente. Morreram na hora.

De-zes-seis anos! Não que a idade do animal torne o crime ainda mais grave, mas ela é, sem dúvida, sugestiva de um tempo maior de convivência entre a agressora e o pequeno pinscher. Em tese, tempo suficiente para se ter estabelecido entre os dois um forte laço de afetividade. Em tese.

Chamada às pressas, a família disse que a mulher sofre de transtorno bipolar -a antiga psicose maníaco-depressiva, doença marcada por intensas alterações de humor.

Naturalmente, não se pode colocar na conta dos males psiquiátricos todos os episódios de agressão contra animais, mas há de se reconhecer que ambos os fenômenos têm forte traço em comum: estão em alta nas grandes cidades.

É um círculo vicioso da modernidade. Inimigos conhecidos -como estresse demais, sono de menos, muita droga, muito álcool, muita cafeína- alimentam a onda dos distúrbios psiquiátricos, ao mesmo tempo em que o isolamento urbano estreita os laços entre homens e animais. Resultado: trazidos para dentro de casa e criados como filhos, cães e gatos se transformam nos principais destinatários de nossas emoções. Do amor incondicional às explosões de raiva. Da solidariedade às inconfessáveis neuroses.

Na mesma semana, uma mulher de 42 anos foi presa na zona sul de São Paulo por suspeita de matar cães e gatos entregues a seus cuidados. Pelo menos 39 corpos foram encontrados em sacos de lixo na casa da acusada e em calçadas nas imediações do imóvel. O flagrante só foi possível porque ONGs que receberam a denúncia contrataram um detetive. Suspeita-se que a mulher retirasse o sangue dos bichos para rituais satânicos, mas ela diz que só provocava a morte dos que estavam em péssimas condições de saúde, "para que não sofressem".

Além da violência, os episódios têm mais um ponto em comum: as agressoras foram ouvidas e liberadas. Estão soltas. Pela lei, agredir um animal rende apenas multa e prisão de três meses a um ano, pena geralmente convertida em pequenos serviços à comunidade. Para as ONGs, isso precisa mudar.

No próximo domingo, dezenas de cidades serão palco da manifestação "Crueldade Nunca Mais". Uma das principais bandeiras é exatamente a mudança na legislação, para que haja mais rigor na punição de crimes de maus-tratos.

Em São Paulo, o ato será às 10h, no vão livre do Masp (os endereços em outras cidades estão no site www.crueldadenuncamais.com.br). Haverá também um abaixo-assinado pela internet. O símbolo do movimento é Titã, o cãozinho enterrado vivo pelo dono no interior de São Paulo e que foi adotado pela veterinária que o tratou.

Fica o convite: manifeste-se, indigne-se, reaja, denuncie. Porque a omissão também é uma forma de violência.

AMANHÃ EM COTIDIANO
Jairo Marques

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