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Abrigos do Rio recebem crianças da cracolândia

Especialistas criticam internação compulsória, que chega ao 8º mês

Desde o início da operação, já foram acolhidos 483 menores; no momento, quatro abrigos recebem 118

DENISE MENCHEN
DO RIO

P., 14, não tinha forças para comer sozinho há cerca de uma semana. L., 12, traz na pele as marcas dos tiros de uma arma de paintball disparados como punição de um traficante por um roubo.

Os dois fazem parte dos 28 meninos recolhidos em cracolândias que hoje vivem no abrigo Ser Criança, um dos quatro que recebem usuários desde que o Rio adotou a internação compulsória de crianças e adolescentes.

A medida, polêmica, está no oitavo mês. No momento, há 118 jovens sob abrigo, e 17 completaram tratamento e foram reintegrados às famílias.

Desde o início das operações, foram feitos 2.849 acolhimentos de adultos e 483 de menores. A maioria dos adultos volta para as ruas.

As crianças são submetidas a avaliação psiquiátrica. Aquelas em situação crítica são levadas para internação compulsória. As demais são mandadas para casa, após aviso ao Conselho Tutelar.

O secretário de Assistência Social, Rodrigo Bethlem, diz que a ação reduziu o número de menores nas cracolândias, mas reconhece que muitos correm o risco de voltar.

A permanência nos abrigos foi pensada para durar três meses, mas tem se estendido. Em média, cada interno custa R$ 3.000 por mês.

Segundo a coordenadora do Ser Criança, Vatusy Moraes, costumam chegar agressivos. Após avaliação, muitos são medicados. O psiquiatra os vê duas vezes por semana.

Eles têm à disposição sinuca, piscina e TV. As saídas são permitidas apenas em passeios com funcionários ou visita à família, como parte do processo de reintegração.

Nenhum frequenta a escola, apesar de manifestarem interesse em estudar. O abrigo espera ter aulas no local.

O longo período consumindo drogas também minou algumas referências de vida. A., 17, diz estar no abrigo há seis dias. A coordenadora corrige: já são sete meses.

O abandono se reflete em carência e desconfiança.

"Eles foram muito rejeitados. Ninguém na rua vai abraçar um menino desses, dar bom dia", justifica Moraes

CRÍTICAS

A internação compulsória é criticada por especialistas, para quem a boa vontade é importante no tratamento.

A psicóloga Sabrina Bonfatti, do Conselho Estadual de Defesa da Criança e do Adolescente, defende a criação de vínculos de confiança com a criança, trabalhando na redução de danos e na importância do tratamento.

Na ONG coordenada por ela, os usuários têm atividades físicas, oficinas de grafite e assistem a palestras.

Rodrigo Bethlem diz não acreditar em redução de danos com o crack.

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