Enem tem piora em matemática e explosão de textos com nota zero
Mais de 500 mil candidatos não receberam nota, a maioria por deixar dissertação em branco
Desempenho médio em redação também teve queda (9,7%); nas outras provas objetivas, candidatos melhoraram
Estudantes do final do ensino médio que fizeram o Enem em 2014 tiveram um desempenho pior em matemática e na redação em comparação à edição anterior do exame, utilizado para ingresso no ensino superior.
No ano passado, o número de candidatos que receberam nota zero na questão de dissertação explodiu: foi de 106,7 mil em 2013 para 529,4 mil (quase o quíntuplo).
Recebem nota zero os textos anulados por diferentes motivos, como fuga ao tema. A maior parte (53%) dessas redações, no entanto, foi entregue em branco.
Para especialistas, o salto foi impulsionado pela participação mais significativa de candidatos que não estavam no ensino médio e, por isso, tendem a ter menos compromisso com o resultado do exame --que é voluntário.
"Tem instituições que não usam a nota da redação em seus vestibulares", lembra Reynaldo Fernandes, professor da USP e ex-presidente do Inep (órgão federal responsável pelo Enem).
No outro extremo, somente 250 candidatos receberam nota máxima (1.000 pontos). No Enem de 2013, foram 481.
PARTICIPAÇÃO
Os dados foram divulgados nesta terça (13) pelo Ministério da Educação. Do total de 6,19 milhões de participantes no Enem 2014, apenas 1,48 milhão estavam concluindo o ensino médio.
Os demais já completaram essa etapa ou ainda estão em estágio anterior (treineiros que desejam testar conhecimentos, por exemplo).
Paula Louzano, pesquisadora da USP, acredita que a maior participação de candidatos está relacionada a políticas de inclusão que usam o exame como critério de seleção, como o Prouni e o Fies.
"O Brasil entrou tarde no ensino superior. Há uma demanda reprimida, isto é, você tem um grupo que enxerga a oportunidade de estudar agora [e tenta]", completa.
DESEMPENHO
Entre os concluintes do ensino médio, a nota geral em redação foi de 470,8 pontos --ou seja, não atingiram nem a metade da nota máxima. Em 2013, a média foi de 521,2 (a queda foi de 9,7%).
"Estamos comparando duas coisas que não são completamente comparáveis. Temos um tema diferente em dois anos", afirma Chico Soares, presidente do Inep.
"O tema de 2013 foi lei seca. Essa questão foi muito debatida, discutida. O tema da publicidade infantil [do ano passado] não teve um grande processo de discussão como o outro", avalia o ministro Cid Gomes (Educação).
Se em matemática também houve queda no desempenho (7,3%), nas demais áreas foi registrado um aumento nas notas médias --a maior delas em ciências humanas (5,4%).
A média geral, considerando as cinco provas do exame, variou de 504,3 para 499 (queda de 1% em um ano).
Concluintes matriculados na rede federal (colégios militares e de aplicação, por exemplo) tiveram as melhores notas (média de 588,8).
As redes estaduais, responsáveis por quase 74% das matrículas do ensino médio no país, registraram as médias mais baixas (477,7).
"Não dá pra gente fugir, camuflar ou tentar dizer que o ensino público é bom. O ensino público brasileiro está muito aquém do desejável", disse o ministro da Educação.
Já o presidente do Inep afirmou que as diferenças não são tão expressivas se comparados alunos de redes diferentes, mas de níveis socioeconômicos semelhantes.