Crise da água
Alckmin diz que Billings pode socorrer SP
Represa relegada a segundo plano para abastecimento nas últimas décadas é citada como opção para encher reservatórios
Medida esbarra na poluição e na engenharia para remanejar água ao sistema Alto Tietê
O governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse nesta quarta-feira (21) que pretende usar a represa Billings para socorrer outros reservatórios que estão com níveis baixos de água em São Paulo.
Embora tenha capacidade de armazenamento semelhante à do sistema Cantareira, a represa às margens da zona sul e do ABC paulista foi relegada a segundo plano para abastecimento humano nas últimas décadas por ser muito poluída em diversos trechos por dejetos industriais e esgoto residencial.
Segundo Alckmin, "a Billings está com mais de 50% de reservação" --volume equivalente a mais do dobro da água disponível em todas as demais represas que atendem a Grande São Paulo.
O tucano disse que a intenção é captar água da Billings para os sistemas Guarapiranga e Alto Tietê, que esvaziaram em ritmo acelerado nos últimos meses não só devido à seca como por serem usados no socorro ao Cantareira.
O novo presidente da Sabesp, Jerson Kelman, já havia cogitado a hipótese, mas ressalvando que a medida esbarra tanto na qualidade da água (que requer alto custo para despoluição ou tratamento) como na "engenharia complexa" para remanejá-la.
A avaliação é reforçada por técnicos ouvidos pela Folha. Alckmin e a Sabesp não deram detalhes --incluindo prazos e custos-- de como a proposta sairia do papel.
A estatal informou que "há muitos anos a tecnologia permite a transformação de água poluída em água potável através de tratamento". Ela afirma que é isso que permite algum uso da Billings atualmente, embora muito restrito.
Parte da água que serve a região do ABC, por meio do sistema Rio Grande, já vem de braços limpos da Billings.
A nova proposta, porém, envolve outros reservatórios.
Há também um braço da Billings parcialmente usado para enviar, por adutoras, 2.190 litros por segundo ao Guarapiranga, que abastece a zona sul. Uma das intenções é ampliar esse envio em 1.000 litros por segundo.
Outra ideia é captar mais 4.000 litros de água por segundo e mandá-la ao Alto Tietê, que abastece principalmente a zona leste --e que tinha ontem só 10% da capacidade. O problema é que essa ligação ainda não existe.
Segundo Alckmin, essas medidas seriam um auxílio ao Cantareira, que estava com só 5,5% de sua capacidade.
O professor titular da USP São Carlos José Tundisi avalia que a ampliação de captação na Billings é viável, já que a Sabesp tem conhecimento sobre os pontos da Billings mais ou menos poluídos.
"Alguns pontos são muito contaminados e seria difícil de captar água. Mas nos locais mais próximos da usina Henry Borden, por exemplo, tem uso possível", disse.
A poluição da Billings é proveniente principalmente do esgoto do rio Pinheiros, de dejetos industriais e do esgoto de ocupações irregulares.
Idealizada no início do século passado, a represa Billlings foi planejada para aproveitar as águas do rio Tietê e Pinheiros para geração de energia elétrica na usina de Henry Borden, em Cubatão.
Com os anos, a represa foi poluída pelos rios. Parte de seu solo está contaminado por metais pesados.