Carnaval 2015
Costurando a fantasia
Com blocos em alta, paulistanos seguem a tradição carioca e confeccionam o figurino do Carnaval com semanas de antecedência
No pré-Carnaval do ano passado em São Paulo, o publicitário carioca Leonardo Konjedic, 27, despertou curiosidade na multidão por ser a única pessoa fantasiada em um bloco no centro.
Vestindo apenas uma sunga com uma boia na cintura, se viu posando para fotos com vários foliões. "Essa é a fantasia mais básica da básica lá no Rio, fiquei assustado. Espero que neste ano o pessoal brinque mais", diz.
Parece que seu pedido foi atendido. Na semana passada, índias, superheróis, hippies, marinheiros e tropicalistas invadiram o parque Augusta durante o ensaio do Tarado Ni Você, numa prévia do que promete ser o desfile de Carnaval do bloco que homenageia Caetano Veloso.
"Acho que as pessoas que a cada ano estão decidindo curtir o Carnaval na cidade querem uma experiência legal, daí as fantasias começarem a aparecer", diz Rodrigo Guima, um dos organizadores do grupo carnavalesco.
A gerente de restaurante Ana Cavalcante, 34, conta que já desceu a ladeira Porto Geral em direção à rua 25 de Março --rua de comércio popular em São Paulo-- para garantir sua fantasia.
"Depois de dez anos sem Carnaval, quero me divertir. E tem que ter fantasia!", fala. O traje escolhido, cheio de frutas e flores, será usado no desfile do Tarado no sábado (14), na avenida Ipiranga.
Sonhando com um Carnaval de rua paulistano tão animado quanto o do Rio, a apresentadora da Band Ligia Mendes é uma das empolgadas com os looks carnavalescos.
"Quando o paulista fala que vai fazer algo, ele vai e arrasa. Com o Carnaval está acontecendo o mesmo. O meu bloco é o máximo e o pessoal está perdendo a vergonha de se fantasiar", diz ela, enquanto prova um adereço inspirado em Carmen Miranda para o desfile do Gueri Gueri no sábado (7).
"Em um momento tão complicado no país, as pessoas precisam mesmo se divertir."
FAÇA VOCÊ MESMO
Desde as últimas semanas, um apartamento no centro de São Paulo serve de ponto de encontro para integrantes do grupo rufos Y bufos elaborarem suas próprias fantasias.
Os trajes inspirados em bichos estão sendo criados com materiais recicláveis, tecidos, folhas secas e gravetos, entre outros materiais. O bloco, que estreia na segunda (16), em frente ao Theatro Municipal, tem como tema a Arca de Noé.
"Muita gente que vai ao desfile fala que está à procura de fantasias. Os paulistas estão se permitindo mais", diz o grupo, que só se pronuncia de maneira coletiva.
"A gente tinha o costume de frequentar o Carnaval dos outros, ia ao Rio para se fantasiar. Agora não precisa mais", afirma.
ADEUS, RIO
A quantidade de bloquinhos em São Paulo cresceu tanto --são 300 inscritos neste ano, contra 200 em 2014-- que muitas pessoas decidiram ficar na cidade em vez de viajar para o Rio.
O carioca Eduardo Viola, 32, há dez anos morando na cidade, decidiu pela primeira vez não passar o Carnaval na cidade natal. "Ano passado fui para o Rio e passei muito perrengue. Entendo que a muvuca faça parte da festa, mas, quando ela é infinita, perde a graça", afirma o publicitário.
Para brincar o Carnaval paulistano, ele conta que fez uma planilha com horários, temas e músicas dos blocos que pretende acompanhar. E já tem programadas as fantasias. "Agora são meus amigos daqui que estão pegando gosto pelas fantasias."
A diretora de arte Luciane Mônaco, 32, integrante do Casa Comigo, que desfila na Vila Madalena neste domingo (1º), também escolheu permanecer na cidade.
"Ano passado, levei uma mala de fantasias para o Rio. Agora, vou usar tudo por aqui. O paulista está pegando gosto pelo Carnaval."