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Imóveis são emparedados na cracolândia

Com blocos de concreto, prefeitura fecha pelo menos 13 estabelecimentos irregulares na região central da cidade

Entre outros, foram interditados hotéis, pensões, lanchonetes e um cortiço; ocupantes reclamam de operação

Danilo Verpa/Folhapress
Homens da prefeitura lacram prédio na cracolândia
Homens da prefeitura lacram prédio na cracolândia

REYNALDO TUROLLO JR.
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Num complemento à operação policial na cracolândia, área do centro de São Paulo, a prefeitura emparedou ontem, com blocos de concreto, as entradas de ao menos 13 imóveis em uso na região.

Foram bloqueados hotéis, pensões, lanchonetes e um cortiço. O secretário das Subprefeituras, Ronaldo Camargo, evitou relacionar quem perdeu a moradia ou o comércio ao crack, mas também não descartou uma possível ligação das pessoas à droga.

A Folha ouviu os retirados. A maioria nega fumar crack.

Segundo Camargo, que esteve no local, 32 imóveis com "problemas administrativos" serão vistoriados e, se estiverem irregulares, emparedados. Muitos já haviam sido lacrados antes, em ações como a de 2009, mas acabaram reabertos sem autorização.

Os problemas, afirmou o secretário, referem-se às estruturas dos prédios (risco de incêndio, por exemplo), dívidas (de IPTU e impostos comerciais) e inadequação de uso, no caso de imóveis que têm licença para um tipo de atividade, mas abrigam outra.

Nem todos os 32 locais chegaram a ser fechados ontem porque a chuva à tarde atrapalhou o serviço dos pedreiros. Mas a ação, segundo Camargo, vai continuar "permanentemente" para "restabelecer a fiscalização" na área.

"O procedimento [de fiscalização] é rotineiro. Aqui [na cracolândia] tivemos algumas anomalias e, por isso, não pudemos dar continuidade."

De acordo com ele, a intervenção ocorreu só agora por conta da operação policial. "Antes, havia risco para nossos homens e equipamentos."

A Polícia Militar iniciou, em 3 de janeiro, uma ação para coibir o tráfico e dispersar dependentes que consomem o crack a céu aberto na região.

Os imóveis emparedados ontem ficam na alameda Dino Bueno, na rua Helvétia, na alameda Barão de Piracicaba, no largo Coração de Jesus e na avenida Rio Branco.

INACESSÍVEL

Fiscais da Subprefeitura Sé, ao lado de policiais, pediram o esvaziamento dos prédios. Mais de 250 homens participaram da ação.

Euni Almeida, 27, que disse alugar um cômodo na Helvétia, reclamou que seus pertences e os de seu filho, de quatro meses, ficaram inacessíveis. O secretário negou que isso tivesse ocorrido, e disse que os fiscais deram tempo para a retirada dos bens.

Claides Macedo, 49, dono do hotel Avaré, também na rua Helvétia, se queixou de não ter sido avisado. Ele, que disse alugar o prédio há três anos, afirmou que não sabia que o dono não mantinha os impostos do imóvel em dia.

"E agora, o que vou fazer com os hóspedes que saíram e deixaram as coisas aqui dentro?", disse, desesperado.

As 20 famílias que moravam na pensão de Jurandir dos Reis, 47, também estavam preocupadas. "São mais de 60 pessoas que não têm aonde ir", disse. Havia entre eles doentes e um deficiente físico.

Segundo Camargo, os desabrigados podem se cadastrar e receber ajuda da Secretaria da Habitação.

"Estamos nos oferecendo, inclusive, para levar os pertences deles, a custo zero, para qualquer parte da cidade, para a casa de parentes, de amigos", afirmou.

A Defensoria Pública cadastrou quem teve seu imóvel emparedado. "É importante dizer que a pessoa deve, em cada caso, ser intimada previamente para apresentar a sua defesa", disse a defensora Daniela Skromov.

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