Dengue explode e até capela vira hospital no interior
Levantamento aponta a situação mais crítica no Estado ao menos desde 2010
Apenas em 50 municípios paulistas há 44 mil infectados; disparada já motivou suspensão de aulas
"Fiquei 12 dias de cama, tomando soro. Parecia que tinha tomado uma surra, de tão mole que fiqueiJoão Ferreira dos Santosaposentado, morador de Trabiju (a 308 km de São Paulo), que contraiu dengue
A explosão de casos de dengue no interior de São Paulo, que deixou até prefeito doente, já transformou capela e escola em hospitais improvisados, forçou a suspensão de aulas e fez com que prefeituras doassem à população repelentes e sementes de uma planta que atrai o predador do Aedes aegypti.
Levantamento da Folha mostra que a situação é a mais crítica ao menos desde 2010.
Em 50 dos 645 municípios paulistas, a reportagem mapeou 44.140 infectados --casos confirmados, e não só suspeitos. É mais que a quantidade registrada no Estado inteiro no primeiro bimestre de cada um dos últimos cinco anos.
Desde janeiro, 28 pessoas morreram em decorrência da dengue e há outras 38 mortes suspeitas em investigação. Na capital, são 563 casos e um óbito suspeito em apuração.
Os dados do Ministério da Saúde, só sobre casos suspeitos, apontam 51,8 mil notificações em São Paulo até 14 de fevereiro, 900% mais que no mesmo período de 2014.
O Estado, que estava em 18º lugar na relação de notificações por 100 mil habitantes (117,7), ocupa agora a terceira posição no país, atrás de Goiás (221,7) e Acre (517,3).
AULAS SUSPENSAS
A dengue é assunto da vez principalmente em cidades com menos de 40 mil habitantes, como Florínia e Trabiju, onde a média é de um doente a cada 13 e 14 moradores.
Os casos estão espalhados pelo Estado, com registros de surtos, epidemias ou mortes em 11 das 15 regiões administrativas de São Paulo.
Com 2.066 casos, ou 1 a cada 16 habitantes, Aguaí decidiu reabrir sua Santa Casa, fechada desde 2013, para instalar na capela camas para pacientes com dengue.
Em 2014, a cidade enfrentou desabastecimento de água, o que levou a população a estocar o produto em baldes e galões. Resultado: agentes de saúde encontraram larvas do mosquito transmissor da dengue em recipientes mal vedados.
Em Ubirajara, as aulas na rede municipal chegaram a ser suspensas. Com a epidemia, os postos de saúde passaram a distribuir repelentes gratuitamente, e a prefeitura entrega aos moradores sementes de crotalária.
Mesmo sem comprovação científica, segundo o diretor do departamento de saúde, Marcos Rogério Briquezi, a planta atrai libélulas que são predadoras do mosquito.
Em Catanduva, a distribuição da semente é restrita a locais públicos. A epidemia de dengue lá é uma das mais graves no Estado, com seis mortes, 22 óbitos sob investigação e 4.284 casos.
Além de postos de saúde, uma escola foi adaptada para atender pacientes.
A cidade de Marília concentra o maior número de confirmações: 5.811 casos.
O prefeito de Ubirajara, Walmir Bordin (DEM), e sua mulher contraíram a doença, assim como o vice de Aguaí, Adalberto Fassina (PMDB).
Em Rio Claro, seis jogadores do time de basquete e quatro de futebol tiveram dengue.
Entre outras armas adotadas por municípios estão o uso de drones para buscar criadouros, alerta divulgados por carros de som e na torre da igreja e apelo de padres durante as missas.