Foco Crise da Água
Água de uso industrial sobra em SP e vira 'opção ambiental' para empresas
Quase todos os dias, na Chácara Santo Antônio, na zona sul de SP, um operário esvazia os 25 mil litros de água de um caminhão-pipa para lavar a sujeira na rua causada pela construção de um prédio.
Até o ano passado, esse trabalho era feito com água potável, de consumo humano. Agora, a água despejada é a industrial de reúso, obtida do esgoto e depois tratada.
Essa troca é possível porque um polo de tratamento de esgoto está com a sua capacidade de produção de água de reúso subutilizada.
Conhecido como Aquapolo, o projeto é fruto de uma parceria da Sabesp com a Odebrecht e fica dentro da estação de tratamento de esgoto do ABC, da estatal paulista.
O Aquapolo tem capacidade instalada para produzir mil litros de água industrial por segundo. Mas seus clientes consomem apenas 650 litros por segundo e são atendidos via grandes adutoras.
Já que construir novas adutoras para chegar a mais indústrias custa caro e leva muito tempo, a solução encontrada foi fazer com que o excedente da produção fosse vendido em caminhões-pipa.
Assim, o projeto é capaz de atender pequenas indústrias e canteiros de obras, como o da Chácara Santo Antônio.
Segundo especialistas, ainda é comum que indústrias usem água potável para fins "menos nobres", entre eles o resfriamento de caldeiras ou em processos de tinturaria.
Em tempos de torneiras secas, como o atual, esse volume de água potável deveria ser poupado, dizem. O uso de água de reúso, portanto, seria uma das ferramentas para diminuir o uso de água potável.
"As pessoas confundem, acham que água de reúso tem algum problema, por ter sido obtida de esgoto. Mas ela tem um nível de rigor e controle muito mais severo para poder ser usada na indústria", disse Marcos Asseburg, diretor-presidente do Aquapolo.
Quem também tem usado água de reúso em seu processo industrial desde o final de 2014 é a Santaconstancia, empresa do ramo têxtil.
A indústria, que emprega 700 funcionários e fatura cerca de R$ 200 milhões ao ano, firmou um contrato com a Sabesp para receber água de reúso, vinda da estação de esgoto do Parque Novo Mundo, na zona norte.
"Preciso de uma água que seja capaz de firmar a tinta no tecido com que trabalho e sem alteração de cor. E para isso não é necessário água potável", diz Luca Pascolato, diretor da Santaconstancia.