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Criança 'inflaciona' e 'turbina' a lista de material escolar

Folha fez o teste: levou uma estudante de 10 anos para as compras em uma papelaria e a conta ficou o triplo

Saída para evitar o 'prejuízo' no caixa não é deixar a criança em casa, mas, sim, educá-la, dizem especialistas

TALITA BEDINELLI
DE SÃO PAULO
LUISA PESSOA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Mochila estampada com princesas, estojo com personagens do filme do momento, cola com gliter. Nas prateleiras de lojas que vendem material escolar, as tentações para as crianças são muitas.

Por isso, levá-las na hora das compras pode pesar, e bastante, no bolso dos pais.

Aproveitando a temporada de compra de material e a volta às aulas, a partir dessa segunda-feira, a Folha convidou uma estudante de 10 anos para um experimento.

Com a lista de uma escola tradicional de São Paulo em mãos, a reportagem levou Natália de Albuquerque do Amaral às compras.

Ela foi orientada a escolher o que quis, sem precisar olhar os preços. A única regra era seguir a lista da escola.

Ao mesmo tempo, a reportagem também simulou outra compra, contendo produtos similares, mas com os valores mais em conta.

Resultado: a cesta da menina ficou o triplo do valor da outra, onde havia apenas os materiais mais baratos; R$ 429,51, contra R$ 159,87.

No final, a estudante foi autorizada a selecionar itens de fora da lista da escola. Aqueles que viu na prateleira e insistiria com a mãe para levar.

Foram dez produtos, entre eles uma garrafinha com personagem de desenho animado, adesivos coloridos e tintas fluorescentes. A conta final subiu para R$ 614,98.

"Nossa, se fosse de verdade minha mãe ficaria bem brava", divertiu-se Natália no caixa, após ver o resultado.

A escolha dela foi baseada na beleza dos itens, explicou. De preferência, os que continham a estampa de algum tipo de animal, paixão dela.

A tesoura colorida custou R$ 9,99; a mais barata, toda preta e de melhor qualidade, R$ 1,99; o lápis de cor, que vinha com um estojinho, R$ 39,90; um sem estojo, R$ 2,6.

DE VERDADE

A compra de Natália foi de brincadeira e não passou do caixa da loja. Mas na papelaria Kalunga, onde aconteceu o experimento, não eram poucos os pais que enfrentavam o desafio de verdade.

Em frente à prateleira das canetas, a administradora de empresas Etel Fernandes, 44, tentava convencer o filho Gabriel, 14, que uma caneta azul de R$ 6 não era necessária, quando havia outra, praticamente igual, por R$ 3,99.

Teve que ouvir o outro filho, Lucas, 12, chamá-la de "sovina", em tom de piada.

Cada item passou por negociação, conta ela, que disse que os filhos geralmente entendem o porquê de não levarem sempre o que querem.

Mas isso não acontece em todas as famílias. "Os filhos influenciam a compra dos pais", afirma Ekaterine Karageorgiadis, advogada do Instituto Alana, ONG que discute o consumismo infantil.

Já a criança, por sua vez, é influenciada pela propaganda do produto, completa ela.

Mas o caminho ideal seria o pai deixar a criança em casa e escolher tudo sozinho?

Para a psicanalista Isabel Kahn Marin, professora de psicologia infantil da PUC-SP, a resposta é não.

Para ela, melhor é levá-la para a compra e aproveitar o momento para educar o filho.

"Essa compra pode servir para se trabalhar com a criança o conceito de caro e barato, do que pode e o que não pode [fazer e comprar] e explicar que, muitas vezes, o que ela viu no comercial não é o melhor para ela."

"É o momento de estabelecer limites", diz a professora.

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