Violência cresce no Complexo do Alemão e quatro pessoas morrem
Um menino de cerca de 10 anos e uma moradora de 40 anos estão entre as vítimas do tiroteio
Comunidade aponta PMs como os culpados; comando das UPPs diz que armas dos policiais passarão por perícia
Um menino morreu com tiro na cabeça no segundo dia de confrontos entre policiais e traficantes no Complexo do Alemão, conjunto de favelas na zona norte do Rio.
Vídeo postado nas redes sociais na tarde de quinta-feira (2) mostra o corpo de uma criança de cerca de 10 anos caído ao final de uma escada e com um rastro de sangue.
A gravação mostra policiais circulando próximo ao menino enquanto moradores os acusam pela morte.
A Polícia Militar informou que homens do Batalhão de Polícia de Choque foram recebidos a tiros por criminosos na comunidade do Areal. Segundo nota houve confronto e um menor foi baleado e não resistiu aos ferimentos.
O menino é a quarta vítima fatal no complexo de 12 favelas em pouco mais de 24 horas. O Alemão é uma das favelas com UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora) que enfrenta problemas.
Integra o grupo de favelas com UPPs que mais preocupam, classificadas com a cor vermelha, o que significa alto risco para operações e insatisfação de moradores.
Com três anos de presença policial no local, os confrontos tem sido recorrentes.
A violência eclodiu por volta das 16h de quarta (1º) com a morte da moradora Elisabete Alves de Moura Francisco, 40, atingida no rosto e no tórax durante troca de tiros. Ela estava dentro de casa quando foi baleada e não resistiu. Sua filha de 14 anos também foi baleada, mas passa bem.
Moradores acusaram um PM de atirar para dentro da casa de Elisabete sem se certificar se havia civis lá.
Ainda na quarta, outras duas pessoas morreram: um homem baleado na cabeça, identificado como traficante, informação confirmada à Folha por um morador local, e um terceiro rapaz, cujas circunstâncias ainda não foram esclarecidas. Moradores atacaram com pedras um contêiner da UPP na quinta.
O policiamento foi reforçado, o que não impediu, porém, que a violência continuasse, culminando na morte do menino, por volta das 17h.
Moradores dizem que a polícia trata a todos como bandidos e dizem que os tiroteios não têm hora para começar.
DIFICULDADES
Segundo o CPP (Comando de Polícia Pacificadora), as armas dos policiais envolvidos nas quatro ocorrências serão recolhidas para perícia. Questionado o CPP afirma que policiais patrulhavam determinada região e revidaram tiros disparados por traficantes.
Na semana passada, a secretaria de Segurança Pública admitiu dificuldades no Complexo do Alemão, mas, em nota, afirmou que "não haverá recuo diante dos feudos da violência".
O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), lamentou a violência no Complexo do Alemão e determinou empenho máximo nas investigações. (COLABORARAM DIANA BRITO, BRUNA FANTTI E CAIO LIMA)