Assédio de construtoras mobiliza morador
Jennifer Monteiro colocou uma faixa na frente de sua casa para desmentir boato de que pretendia vender o imóvel
Para o presidente do sindicato do mercado imobiliário, os proprietários também estão especulando
"Esta casa não está à venda, nem estará! Abaixo a verticalização da Pompeia."
Foi com uma faixa com essa mensagem na fachada de sua casa que a publicitária Jennifer Monteiro, 49, a um só tempo afugentou construtoras que rondam a região e ainda tranquilizou os vizinhos sobre os boatos --espalhados por corretores-- de que ela queria vender o imóvel.
A casa em que mora há quase 45 anos está localizada a poucos metros da estação Vila Madalena do metrô, na zona oeste de São Paulo.
Essa região integra os chamados Eixos de Estruturação da Transformação Urbana, criados pelo Plano Diretor Estratégico, aprovado em 2014.
Nesses pontos, foi proposta a chamada Zona Eixo de Estruturação da Transformação Urbana (ZEU). São áreas que acompanham eixos de transporte e em cujos terrenos será permitido construir mais que no restante da cidade (pouco mais de quatro vezes a área do lote), em edificações sem limite de altura.
Tamanho potencial supervalorizou os terrenos, que viraram mina de ouro para o voraz mercado imobiliário da maior metrópole do país.
"Os corretores inventam para cada morador que as casas ao redor já foram vendidas", diz Jennifer. "Ninguém quer ser vizinho de um prédio de 40 andares", afirma.
Para o presidente do Secovi (sindicato do mercado imobiliário), Claudio Bernardes, "as pessoas podem não gostar, mas é nessas áreas que se vai construir".
"Os corretores são agressivos mesmo. Só que muita gente que mora nos eixos teve seus terrenos valorizados e reclama, mas também está especulando", diz.
"Como é possível colo- car prédios numa área cuja infraestrutura é dos anos 1940 e foi montada para re- ceber apenas casas?", questiona a publicitária.
"Quem compra apartamento de 40 m² por R$ 400 mil anda de carro. É ilusão achar que vão usar o metrô."
Para o urbanista Cândido Malta, professor emérito da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo), as ZEUs funcionarão como "um trator, que arrasa tudo".
"Sou a favor do adensamento, mas está na cara que não dá para verticalizar sem limites baseado em uma infraestrutura já existente. É uma proposta irresponsável."
Para ele, "os sistemas de circulação já estão à beira do colapso" e a proposta precisaria ter calculado o impacto do adensamento no trânsito e nas estruturas urbanas.
O secretário municipal de Desenvolvimento Urbano, Fernando de Mello Franco, afirma que apenas 20% dos terrenos das ZEUs podem, efetivamente, ser transformados.
Ele afirma que a cidade precisa crescer. "Hoje, há um deficit estimado de 227 mil domicílios. Se não fizermos nada, ele será de 770 mil. A cidade não pode parar", diz Mello Franco.