Diálogo da prefeitura com tráfico provoca ataques entre PT e PSDB
Para oposição, gestão Haddad (PT) errou ao conversar com traficantes na região da cracolândia
Já aliados da prefeitura dizem que governo Alckmin (PSDB) não tem atuado no combate ao tráfico de drogas
A iniciativa da Prefeitura de São Paulo de dialogar com traficantes da região da cracolândia, no centro paulistano, provocou duras críticas da oposição. Integrantes da gestão petista, porém, saíram em defesa do município e atacaram o governo do Estado.
Reportagem da Folha nesta sexta (1º) revelou que auxiliares do prefeito conversaram com traficantes e anteciparam a eles detalhes da operação que retirou barracas de viciados e terminou em confronto entre usuários e policiais.
Para o vereador Andrea Matarazzo, líder do PSDB na Câmara Municipal, Haddad (PT) foi irresponsável e coloca em risco a população ao "dialogar com o submundo".
"Se ele sabe quem são os traficantes, precisa passar para a polícia. É uma postura esquisita negociar com o tráfico para fazer desocupação."
Já o vereador petista Paulo Fiorilo lembrou que a responsabilidade pelo combate ao tráfico de drogas é da polícia, vinculada ao governador Geraldo Alckmin (PSDB).
"Todo mundo nesta cidade, neste Estado, sabe como é que funciona o tráfico. Só o governo que parece que não consegue entender", disse.
Procurado, o secretário estadual Alexandre de Moraes (Segurança Pública) disse, em nota, que declarações de Fiorilo não merecem credibilidade. "[Ele] deveria conversar com o prefeito para saber a realidade da situação, antes de se manifestar de maneira infantil e incompetente."
Alvo de críticas da oposição, esse diálogo na cracolândia foi mantido entre assessores do prefeito e ao menos seis pessoas que se identificavam como "líderes" da chamada "favelinha", conjunto de barracos dos viciados usados também para vender drogas.
Integrantes do primeiro escalão da prefeitura disseram à reportagem que, nessas conversas, os auxiliares de Haddad sabiam que estavam lidando com traficantes, e não com alguns dos usuários.
O objetivo desse contato seria evitar uma reação violenta dos usuários na operação para retirar os barracos. A ação, porém, terminou em confronto entre viciados em crack e policiais militares.
Para o vereador Ricardo Young (PPS), também da bancada de oposição, a conversa com traficantes é necessária. "Se você vai fazer uma ação num local como esse, evidentemente tem que conversar com todas as partes, não importa se é usuário, traficante, dono do hotel, guarda."
O secretário municipal de Direitos Humanos, Eduardo Suplicy, disse que a prefeitura conversou com todos que exercem liderança, mas que ele próprio não saberia distinguir entre usuário e traficante.