Teto de R$ 2.035 atinge 50% dos docentes do país
A atividade extra tem peso importante no orçamento doméstico dos professores: apenas com a docência, 50% dos profissionais recebem valor menor ou igual a R$ 2.035.
Com a jornada adicional, seja em outra rede ou fora da educação, esse percentual diminui para 36%.
Ao mesmo tempo, o número de professores que ganha na faixa acima de R$ 2.035 e até R$ 6.780 sobe de 46% para 58%.
Para Guilherme Prado, da Faculdade de Educação da Unicamp, essa condição degradada de trabalho acaba por repercutir no ingresso de estudantes nos cursos de licenciatura ou no afastamento desses graduandos da sala de aula.
"Em vez de optarem pela docência, vão para outras áreas, que do ponto de vista financeiro são mais rentáveis", afirma o professor da Unicamp, para quem o problema afeta principalmente áreas de física, química e matemática, com mercados mais amplos.
GREVES PELO PAÍS
Secretários de educação alegam que esse valor, em grande parte, está atrelado a uma jornada parcial de trabalho, inferior a 40 horas semanais.
Os dados, porém, indicam que 34% dos professores com carga horária de 40 horas ou mais ganham até R$ 2.035.
As condições de trabalho e a remuneração do profissional motivaram, neste ano, uma onda de paralisações em diversos Estados do país.
"O quadro que temos é de muita tensão", afirmou recentemente o secretário de articulação com os sistemas de Ensino do MEC, Binho Marques, diante das greves na rede pública.
Em Alagoas, onde 60% dos professores ganham até R$ 2.000 (é o maior percentual até essa faixa), a categoria ameaça parar as atividades em julho.
"Os salários estão muito aquém da nossa qualificação profissional. Ninguém mais quer ser professor", afirma Consuelo Correia, presidente do Sinteal, sindicato dos trabalhadores em educação de Alagoas.
"Isso mostra uma baixa valorização da carreira. Estão atraindo pessoas menos qualificadas", afirma.
Segundo a presidente do sindicato, uma mudança no salário pode não ter efeito imediato, mas tornará a carreira mais atraente.
QUALIDADE DE VIDA
Professores afirmam que a dupla jornada interfere na qualidade de vida e traz impactos para o desempenho em sala de aula.
Kelly Naves, professora da rede pública municipal em Belo Horizonte (de anos iniciais do fundamental e de inglês para outras turmas), lamenta não ter tempo livre para se dedicar a um mestrado, por exemplo.
"Amamos a profissão. Mas o salário é tão baixo que sempre chega o momento em que pensamos em tentar outra atividade. O cansaço é inevitável", diz.