Sob Haddad, programas para pedestres encolhem
Campanha de travessia segura foi suspensa; multa de calçadas, afrouxada
Prefeitura nega redução de iniciativas e afirma apostar em limite de velocidade menor e faixas transversais
Ao mesmo tempo em que implantou faixas de ônibus e ciclovias e reduziu a velocidade das marginais Pinheiros e Tietê, a gestão do prefeito Fernando Haddad (PT) abandonou iniciativas voltadas a pedestres.
A campanha que colocava orientadores nos principais cruzamentos da capital paulista para instruir transeuntes e motoristas foi encerrada, e a lei que punia donos de calçadas mal conservadas foi afrouxada.
A suspensão das medidas ocorreu no período em que as faixas de ônibus foram expandidas, o que aumentou a velocidade dos coletivos e, segundo especialistas, influenciou na alta de 31% das mortes por atropelamento por esse tipo de veículo em 2014 (de 87 para 114).
A gestão Haddad nega ter abandonado a proteção aos pedestres e diz que eles se beneficiam de medidas como a redução do limite de velocidade, iniciada sob Gilberto Kassab (PSD), e a criação de faixas de travessia transversais (veja texto na pág. B7).
TRAVESSIA
Os chamados "mãozinhas" –agentes que orientavam a travessia na faixa– faziam parte de um programa educativo implantado em 2011, na gestão do então prefeito Gilberto Kassab (PSD).
Naquele ano, foram registradas 617 mortes de pedestres. Em 2012, o número caiu 12%, para 540.
O programa permaneceu ativo no primeiro ano de Haddad, quando houve nova queda dos óbitos de pedestres, de 5%, e o número foi para 514.
Em 2014, os orientadores desapareceram. As mortes subiram 8%, para 555.
O engenheiro Luiz Carlos Mantovani Néspoli, que participou da implantação do programa, diz que os orientadores tinham papel importante, principalmente nos corredores de ônibus.
Hoje superintendente da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), ele diz que o programa colocou a segurança em evidência.
"A nova ênfase é mobilidade: faixa e ciclovia, o que é louvável. O Estado, aparentemente, não consegue evoluir em duas frentes", diz.
CALÇADAS
A maioria dos deslocamentos na cidade é feita a pé, mas as iniciativas para melhoria de calçadas também não têm alavancado.
Criada em 2012, a lei que multava imediatamente os paulistanos que não cuidassem de seus pavimentos foi revista por iniciativa da prefeitura. Desde 2013, a punição, de R$ 300, só é aplicada após um prazo de 60 dias.
Ao sancionar a norma, Haddad anistiou os cerca de 6.000 contribuintes que haviam sido multados em 2012.
Entre maio, quando começou a valer a nova lei, e dezembro de 2013, foram 2.484 autuações. No ano passado, 4.518. Neste ano, até a última quinta 30), eram 418 multas.
Outra medida que avançou pouco foi a implantação de calçadas acessíveis.
A um ano do fim da gestão Haddad, só 29% dos 850 mil metros quadrados previstos no plano de metas foram feitos.