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'Vestibulinho' e violência separam a melhor e a pior escola de SP
Um total de 33 km, distância que na cidade de São Paulo representa duas horas dentro de um ônibus, separa as escolas estaduais com a melhor e a pior média do Enem do ano passado na capital.
A melhor delas fica no bairro de Pinheiros, área nobre da zona oeste. Além de muros pichados, a escola estadual Professor Antônio Alves Cruz tem 360 alunos e recebeu nota média de 525,5 pontos no exame de 2014.
Na prática, ele foi o "melhor" colégio público da capital, numa lista que exclui as escolas técnicas, federais e ligadas a universidades.
"O ensino é bom, a estrutura é boa e há pouco tempo fizeram uma reforma", diz a aluna Júlia Rodrigues, 15.
Na escola, os alunos estudam em período integral, das 7h às 16h, com uma pausa para almoço e dois intervalos. Todos estão no ensino médio e, desde o primeiro ano, se preparam para o vestibular.
"No ano passado, o pessoal foi bem porque tinham professores o ano todo, mas esse ano não vai ser a mesma coisa", diz a aluna do terceiro ano Júlia Falzoni, 17, numa referência à greve dos docentes, a maior da história no Estado.
Além das disciplinas fixas, a escola oferece as eletivas, que são pensadas pelos professores para tornar o ensino mais específico. Um aluno que quer cursar arquitetura pode, por exemplo, se matricular em uma eletiva de desenho geométrico.
Os alunos também fazem um PV (projeto de vida), que traça caminho de ensino coerente às suas áreas de interesse. Na PA (preparação acadêmica), professores passam noções de estudo e treinamento para provas, como o Enem.
Já no extremo sul, no Jardim Varginha, fica a Escola Estadual Professor Sergio Murillo Raduan. Com grades nas portas e janelas, o colégio obteve a menor média no Enem paulistano, com 466,3 pontos.
A escola é alvo de ao menos um assalto por ano, dizem alunos e professores. Em 2014, 28 computadores foram roubados durante as férias e agora não há nenhuma máquina para os estudantes.
Apesar dos assaltos, professores e alunos afirmam não existir problemas de violência dentro da escola. Para uma professora do ensino médio que não quis se identificar, os resultados do Enem são explicados pelo contexto social da região, uma das mais pobres da cidade.
"Temos alunos com pais presos. Como uma criança dessas vai conseguir estudar?", completa a professora.