Estudantes voltam para casa na garupa de vigias
Por R$ 50 ao mês, alunos pegam carona em portão da Cidade Universitária
Serviço é prestado por três guardas dos bairros Vila Indiana e Jardim Rizzo; negócio começou após assalto a moradora
Quando Gustavo Patino, 27, sobe na garupa de uma moto e sai em direção à república estudantil onde vive, no Jardim Rizzo, algumas pessoas se assustam. Acham que ele e o motorista do veículo, um vigia do bairro, são assaltantes.
Virou rotina para o porto-riquenho Patino, estudante de engenharia da USP, a carona na garupa dos vigias. Três seguranças prestam o serviço na Vila Indiana e no Jardim Rizzo, bairros próximos à universidade que abrigam diversos estudantes.
Sirenes ocasionais anunciam a chegada de Marcelo José da Silva, 31, Cirineu Monteiro da Silva, 18, e Diogo Rodrigues, 18, que percorrem os bairros em motos –os apetrechos sonoros foram instalado nos veículos para chamar atenção, segundo Marcelo.
Uma parada é obrigatória: o portão da Vila Indiana, passagem do bairro para a Cidade Universitária.
Com uma portaria e dois guardas terceirizados, a entrada para pedestres fica perto do Instituto de Ciências Biológicas. É ali que alguns alunos esperam para subir nas motos.
Tudo começou há alguns anos, quando uma aluna da USP foi assaltada ao voltar para casa, no Jardim Rizzo, às 22h. Marcelo era vigia do bairro e recebia contribuições de moradores das casas. Lembra ter sido abordado pela estudante: "Se eu pagar um pouco mais, você me busca?". Ele disse que sim. "E aí ficou no boca a boca", conta.
Depois, o negócio cresceu, e os dois outros vigias também passaram a buscar os alunos. Hoje, são oito que ligam com regularidade.
São moradores de casas que dividem uma mensalidade de R$ 50 pelo pacote –vigiar o bairro e buscá-los na porta da USP.
Alguns pedem que os vigias os acompanhem de moto, enquanto andam a pé; outros sobem na garupa. Há os que chegam de carro em casa e pedem cobertura de um dos três. Os seguranças são acionados pelos estudantes por meio do celular.
Quando há muitas ligações, os vigias dão preferência à "ordem de ligada". Costumam chegar em menos de dez minutos. "Mesmo quando estamos longe e demoramos 20 minutos, os alunos esperam", afirma o vigia Cirineu Monteiro da Silva, 18.
Patino, o porto-riquenho, divide a casa com dois alunos estrangeiros: uma portuguesa e um colombiano. Ambos são adeptos das garupas.
"Os alunos se aglomeram na porta, até juntar um grupo", conta o segurança Álvaro Rosa, 43, que fica na guarita da passagem. "Eles esperam, ligam para amigos e voltam para casa juntos." (JULIANA GRAGNANI e lAURA lEWER)