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Em Curitiba, parceria com médicos ensina depiladoras a alertar sobre DSTs
Faz dois meses que a depiladora Elania de Oliveira Souza, 51, tem um bloquinho no balcão do seu salão de beleza. Quando precisa, preenche um formulário: "Eu, depiladora amiga, encaminho minha cliente à unidade de saúde do bairro para orientações".
Elania é uma das dez mulheres treinadas para serem "depiladoras amigas", num projeto-piloto feito na rede de saúde de Curitiba, idealizado pela Universidade Positivo.
A ideia é ensinar a identificar lesões que apontem doenças sexualmente transmissíveis e estimular as clientes a procurar auxílio médico.
"A brasileira vai todo mês à depiladora, mas, ao médico, vai uma vez por ano", diz a médica Andressa Gulin, professora da universidade e uma das idealizadoras do projeto.
Quando a ideia surgiu, no início de 2015, aumentava a ocorrência de algumas doenças venéreas em Curitiba. "A procura por exames preventivos diminuía a cada mês", conta a chefe da unidade piloto, Marcia Bora.
Ela encampou a ideia de Gulin e da colega Tatiane Herreira Trigueiro, que leciona enfermagem na universidade. Com a ajuda de alunas e agentes de saúde, mapearam as 18 depiladoras do bairro.
Num curso de quatro horas, as profissionais aprenderam a diferenciar o que é normal do anormal e conheceram a estrutura da unidade de saúde. A dica final é não diagnosticar, mas orientar a cliente a procurar um médico.
As aulas vieram ao encontro das apreensões das depiladoras. "Tem muita coisa que eu via e nem sabia o que era", conta Elania, na função há oito anos. "Agora, sinto mais confiança para comentar."
No posto de saúde, houve um aumento do número de exames: de 21 por mês, pulou para 52. O resultado é preliminar, mas anima a equipe.
Para Gulin, o projeto ajuda a romper tabus também quanto ao SUS. "Há vergonha, preconceito. As pessoas costumam dizer 'Ah, mas vai demorar meses'. Não vai, a coleta é feita na hora."
A médica vê no projeto uma oportunidade de atingir especialmente adolescentes. "Elas não falam disso com a mãe, não vão ao médico, mas vão à depiladora", diz Gulin.
A prefeitura quer expandir o projeto ainda este ano. Vai acrescentar orientações sobre higiene e abordar doenças e situações mais prevalentes em cada bairro.