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Polícia prende quase 200 na cracolândia, mas tráfico continua

Comando da PM havia anunciado, em 4 de janeiro, que ação iria desmontar rede de venda de droga em um mês

Ministério Público vai investigar prisões; coronel da PM não comenta atual situação no centro paulistano

DE SÃO PAULO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A operação policial desencadeada na cracolândia, região central de São Paulo, completa um mês amanhã com um saldo de quase 200 prisões realizadas, mas sem conseguir acabar com o tráfico e o consumo de drogas.

Na tarde de ontem, reportagem da Folha voltou a flagrar pessoas consumindo e traficando drogas nos cruzamentos da rua Helvétia com a alamenda Barão de Piracicaba, epicentro do trabalho da PM desde 3 de janeiro.

No início da operação, o comando da corporação anunciou que a nova operação na área conseguiria desmontar a rede do tráfico em um mês. "Em 30 dias a polícia vai identificar traficantes e cortar a chegada de crack na região", disse na ocasião o comandante da PM paulista, coronel Álvaro Camilo.

Ontem, nem coronel nem assessores comentaram a atual situação da cracolândia.

Na semanada passada, durante evento, a secretária da Justiça, Eloisa de Sousa Arruda, chegou a dizer que "a cracolândia não existe mais".

A Folha constatou que o número de dependentes químicos nas ruas durante o dia de fato foi reduzido, mas parte continua ali. À noite, o movimento de viciados e traficantes se intensifica, formando grandes aglomerações.

INVESTIGAÇÃO

Além de não conseguir acabar com o tráfico de drogas na região, as prisões feitas nessa operação -que incluem as prisões feitas pela Polícia Civil -passaram a ser alvo de uma investigação por parte do Ministério Público.

De acordo com o promotor Arthur Pinto Filho, o grupo de promotores que acompanha a operação na cracolândia realiza levantamento de todos os flagrantes feitos.

Para o promotor Pinto Filho, é "muito estranho" o fato de as prisões feitas chegarem à metade da população que morava no local e serem superiores até mesmo que as internações de usuários.

Segundo o governo, 400 pessoas moravam na cracolândia, mas com picos de até 800 usuários reunidos.

Foram 196 pessoas presas, contra 186 internadas para tratamento de dependência.

"Queremos saber que tipo de traficante está sendo preso ou se é traficante entre aspas", disse o promotor.

Segundo a defensora pública Virginia Catelan, a maioria dos casos de flagrantes aponta para um possível exagero por parte da PM.

Segundo ela, existe a possibilidade de usuário estar sendo preso como traficante mesmo que, em muitos casos, não haja todos os elementos que caracterizam o tráfico, como compradores ou dinheiro apreendido.

A operação policial deflagrada em 3 de janeiro na cracolândia, segundo pesquisa Datafolha, é aprovada por 82% dos paulistanos. (ROGÉRIO PAGNAN, GABO MORALES E RAPHAEL SASSAKI)

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