Superlotação deixa animais silvestres sem abrigo em SP
Centros de triagem têm negado entrada a bichos apreendidos e feridos
Mantidos por ONGs, órgãos federais e estaduais, unidades reclamam de falta de verbas e de espaço
No alto de um morro em São Sebastião, no litoral norte paulista, um trecho de floresta em um sítio reúne sobreviventes do bicho-homem.
A lobo-guará Lupa, 2, cambaleia por causa das cinco fraturas sofridas quando era filhote. A onça-parda Neo, 7, teve a pata lesionada. Ambos foram atropelados.
A tamanduá-bandeira Narizinho, 1, escapou de um incêndio, e murucututus (tipo de coruja) dão voos curtos porque tiveram parte das asas amputadas por pipas.
O refúgio em São Sebastião é um dos 13 Cetas (Centro de Triagem de Animais Silvestres) de São Paulo, que funcionam como um misto de pronto-socorro e abrigo para pássaros, mamíferos e demais bichos da fauna silvestre até que eles possam ser soltos ou levados a um local apropriado.
Mas, sem espaço nem verba (alguns são mantidos por ONGs), muitos já não recebem animais apreendidos em cativeiros ilegais ou feridos.
A situação é pior no sul, no norte e no oeste do Estado, onde não há Cetas.
A Polícia Militar Ambiental, uma das principais responsáveis por recolher os animais, diz que às vezes demora a encontrar um lugar.
Um dos mais críticos é o Cetas de São Sebastião, da ONG Fundação Animalia, única referência no litoral norte.
Além dos bichos feridos, a maioria veio de apreensões. Scilla e Caribdi, 8, Alfa e Dente, 13, são filhotes de uma onça-parda morta a tiros, criados ilegalmente em sítios.
A macaco-prego Geisy, 10, não caminha mais que meio metro para cada lado –provavelmente era o comprimento da corrente à qual passou a maior parte da vida presa.
O centro não recebe novos bichos desde outubro de 2014, após o fim de repasses de um convênio com a Petrobras –contrapartida ambiental por uma obra. Sem os R$ 50 mil mensais, a unidade, que já chegou a ter 600 animais, hoje tem 80 e vive de doações.
"Só ficou a onça manca, a jaguatirica cega, aqueles coitados que não temos para onde mandar", disse o biólogo André Rossi, 58, da Animalia.
EFEITO CASCATA
A maior parte dos animais foi levada para o Cetas em Lorena, único do Estado mantido pelo Ibama (órgão federal), que também ficou sobrecarregado. A unidade abriga hoje 4.000 bichos, o dobro do ano passado. Socorreu ainda o Rio de Janeiro, já que o Cetas de Seropédica fechou em janeiro –o Ibama diz que não abrirá outro no Rio.
Na capital, o Cetas do Parque Tietê teve de rejeitar novos animais após receber centenas de pássaros de uma só vez, recolhidos pela polícia.
A maioria dos centros só recebe bichos pequenos e alguns têm restrições. Os do Ibirapuera e Parque Anhanguera só recolhem bichos da fauna da capital, por exemplo.