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Ao menos 26 foram mortos por 'comboio'

DOS ENVIADOS ESPECIAIS
DE SALVADOR

Dois Peugeot e um Palio circulavam na área do loteamento São Cristóvão, na periferia de Salvador, e só pararam quando viram a vítima, um negro aparentando 22 anos, andando pela rua. Homens encapuzados desceram e atiraram à queima-roupa.

O rapaz, não identificado pela polícia, recebeu 18 tiros de pistolas. Após matarem o jovem, os atiradores tiveram tempo de recolher as cápsulas deflagradas antes de partir, sem pressa, por volta das 17h30 da última quarta-feira.

O crime revela o perfil de uma série de ações descritas por testemunhas de ataques nos 11 dias de greve da Polícia Militar em Salvador.

Nelas, assassinos, em comboios de até quatro carros, saem pelas ruas da capital matando indivíduos ou grupos.

Em muitos casos, os criminosos usam máscaras e toucas ninja para esconder os próprios rostos.

Chamados por alguns policiais de "comboios da morte", esses grupos de extermínio foram responsáveis, segundo as primeiras investigações, por ao menos 26 homicídios dos 109 contabilizados em Salvador entre 31 de janeiro e 9 de fevereiro, período que coincide com a greve dos policiais militares no Estado.

Além da coincidência de veículos nessas ações, há também a repetição do calibre das armas utilizadas: pistolas.40 (utilizada pelas polícias) e.380.

Esse padrão se repetiu, por exemplo, em chacinas nos bairros da Boca do Rio (cinco moradores de rua), Engomadeira (quatro homens) e Valéria (três mototaxistas).

Em Valéria, a cerca de 20 km do centro, testemunhas relataram que Danilo dos Santos Nogueira, 20, Railton dos Santos, 19, e Bruno Menezes de Souza, 15, estavam em um ponto de mototáxi quando vários homens com toucas chegaram atirando.

Pelo registro da polícia, os três tentaram fugir e foram atingidos pelas costas. Sofreram ainda perfurações na cabeça, braços e pernas.

Em outro crime, um homem não identificado foi levado em um carro por três homens armados até área isolada da BA-528, via conhecida como estrada da Base Naval de Aratu. Uma moto com duas pessoas fazia a escolta.

A vítima foi encontrada algemada e com 13 perfurações pelo corpo. A algema, de inox, é semelhante às utilizadas pelas polícias.

Havia sinais de tortura em ao menos outras cinco vítimas localizadas pela polícia. Seus corpos foram encontrados em locais ermos de "desova", algemados ou amarrados com cordas e fios.

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