Reinaldo, 17, e Silene, 39

'PM não se comoveu ao saber que mãe e filho foram mortos'

Greve é agora uma palavra considerada maldita pela família Jesus Santos.

Durante a paralisação dos PMs, a família do bairro pobre Sete de Abril, a cerca de 20 km das regiões mais privilegiadas de Salvador, acionou o serviço de emergência 190.

O atendente da polícia, dizem parentes, não se comoveu ao saber que pessoas armadas haviam invadido a casa e matado Reinaldo, de 17 anos, e a mãe dele, Silene, 39, que tentou defendê-lo. Ela foi morta na frente de outra filha, de quatro anos.

A suspeita é que o menino seria usuário de drogas e estaria devendo a traficantes.

O crime ocorreu por volta das 2h, quando começaram os pedidos de socorro ao telefone por familiares e vizinhos. Mas, da PM, só conseguiram um novo número de telefone, da Polícia Civil.

Na nova tentativa de obter ajuda, parentes dizem que a recepção também foi desalentadora: "A PM está em greve. Está escuro e é perigoso para nossa equipe. Só podemos ir até aí quando amanhecer", teria dito o policial.

Os policiais civis só apareceram, de fato, quando o dia clareou. Foram com reforço de um grupo especial da corporação. Anotaram rapidamente algumas informações e foram terminar o registro em lugar mais seguro.

A família, que até a conclusão desta edição não havia sido procurada novamente pela polícia, diz acreditar que o caso nunca será esclarecido.

Um irmão de Silene foi morto durante outra greve, mas de ônibus, há 14 anos. Na ausência de transporte, caminhava por uma rodovia quando foi abordado. Até hoje, o caso aguarda solução.

Os parentes têm medo de dar o nome. "Estamos entregues à própria sorte", explica T. "E rezando para que não haja mais greves", disse ele, enquanto instalava uma grade de ferro na porta de casa.