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Sem água há uma semana, morador de Mauá usa mina

Na periferia, fila para encher baldes com líquido de pureza incerta que brota do local demora até 30 minutos

Vizinhos acusam companhia de beneficiar namorada de superintendente; empresa nega

RICARDO GALLO
DE SÃO PAULO

Sob o sol forte da tarde de ontem, 20 pessoas esperam para encher baldes com a água que brota de uma mina na periferia de Mauá. A pureza do líquido é incerta, a demora na fila chega a 30 minutos, mas ninguém sai dali.

Hoje faz uma semana que o rompimento em uma adutora deixou parte da cidade do ABC sem água. O conserto acabou às 6h de ontem, quando 220 mil dos 417 mil moradores (52%) estavam com as torneiras vazias.

O problema agora se concentra nos bairros altos, onde a água demora mais para chegar. A normalização será gradual, diz a prefeitura. Não há prazo certo.

Enquanto a água não volta, as minas viraram solução na Vila Nova Mauá, um dos bairros mais prejudicados.

Antonio Garcia, 85, diz não saber o que é tomar banho há uma semana. Desde então, passa panos molhados no corpo. A água da mina ele ferve e bebe. Já a da chuva é usada para limpar a casa.

"Isso é a nossa salvação", diz Adriana Alfredo, 37, que deu banho na filha na mina. Em falta, a água encareceu: 20 litros custavam até R$ 25, cinco vezes o normal.

NAMORADA

Água, dizem com sarcasmo os vizinhos da Vila Nova Mauá, só há num sobrado amarelo perto da mina. Na casa vive a namorada de Diniz Lopes, superintendente da Sama (Saneamento Básico do Município de Mauá), que cuida do abastecimento local.

Seis pessoas disseram à Folha que um caminhão-pipa abasteceu a casa da moça.

Uma delas denunciou o caso à Sama anteontem. Dois dos seus filhos tiveram problemas: um, deficiente, com feridas no corpo; o outro vomitou com a água da mina.

Ao saber do rumor do caminhão-pipa na casa da vizinha, a mulher ficou furiosa -e foi reclamar na Sama. Horas depois, diz ter recebido um caminhão-pipa em casa.

A Sama nega que os veículos tenham beneficiado só a namorada do superintendente. Disse que os caminhões ficavam na rua, não em uma casa específica, e enchiam vasilhames, não as caixas-d'água.

Diniz Lopes não atendeu à Folha. A namorada dele não estava em casa.

A Sama diz ter colocado 43 caminhões-pipa na cidade nos últimos dias e que o conserto do problema demorou por causa da localização da adutora, numa encosta na mata, e pelas chuvas.

Hospitais e postos de saúde foram abastecidos por caminhões-pipa no período.

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