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'Atirei sem pensar', afirma Lindemberg em julgamento

Depoimento durou 5 horas e 20 minutos e foi considerado 'claro' pela Promotoria

Sentença deve ser dada hoje pelo tribunal do júri depois de debates entre defesa e acusação do caso Eloá

DE SÃO PAULO

"Eu atirei. Depois da explosão da porta, Eloá fez um movimento de se levantar e, sem pensar, eu atirei".

Foi assim que Lindemberg Fernandes Alves, 25, confessou ontem que matou a ex-namorada Eloá Pimentel, 15, em outubro de 2008.

Foi a primeira vez que o rapaz falou sobre as cerca de cem horas em que manteve a garota em cárcere privado dentro do apartamento onde ela morava, em Santo André, na Grande São Paulo.

Grande parte desse episódio foi acompanhado ao vivo pelas emissoras de TV e terminou com a morte de Eloá, com a amiga dela, Nayara Rodrigues da Silva, ferida gravemente, e questionamentos sobre os procedimentos adotados pela Polícia Militar.

O depoimento de Lindemberg durou cinco horas e 20 minutos e ocorreu no terceiro dia de seu julgamento.

Os trabalhos devem ser concluídos ainda hoje com o debate entre defesa e acusação e a decisão dos jurados. O agora réu confesso é acusado de 12 crimes e pode pegar até 110 de prisão.

RECUSA

Da bateria de perguntas feitas a ele, Lindemberg se recusou a responder apenas uma feita pela acusação: sobre qual era o relacionamento dele com o pai de Eloá.

De resto, respondeu a todas as questões feitas pela juíza Milena Dias, pela promotora Daniela Hashimoto e os dois advogados-assistentes da acusação. Seu depoimento chegou a ser classificado pela promotora como "claro, constante e calmo".

Havia uma expectativa quanto ao seu depoimento porque ele tinha o direito constitucional de permanecer em silêncio, como já havia feito na polícia e na própria Justiça.

A versão de Lindemberg apresentada aos jurados tentou demonstrar que uma sequência de erros (parte deles da polícia) levou ao desfecho trágico. Que a morte e o cárcere privado de Eloá não foram premeditados.

Para começar, ele diz que só estava armado porque na época vinha sofrendo ameaças de pessoas desconhecidas. Por isso, comprou um um revólver calibre.32 e cerca de 20 munições.

Foi ao apartamento de Eloá porque havia reatado o namoro de dois anos e três meses, um segredo que ambos ensaiavam revelar à família, e nessa visita descobriu ter sido traído por Eloá. Segundo o réu, ela confessou ter beijado Victor de Campos, rapaz que estava no apartamento quando ele chegou.

Lindemberg disse ainda que a situação começou a fugir do controle quando descobriu que a polícia chegou. Como estava armado, sentiu-se "perdido".

Disse que desde o começo queria se entregar, mas tentava escolher uma maneira mais segura. Para ele, e para Eloá. Só não o fez de imediato porque poderia ser morto pela polícia, preocupação também externada por Eloá.

Também seria de uma das meninas (ele não lembrava qual) a sugestão de falar com a imprensa, com o objetivo de trazer mais segurança a eles.

Disse ainda que nessas cerca de cem horas de confinamento, ele, Eloá e Nayara chegaram a levar tudo aquilo como uma brincadeira.

Isso explicaria porque Nayara chegou a aparecer na janela de óculos escuros e porque fizeram um doce.

Na sexta-feira, dia da invasão da PM, ele iria se entregar. "Não havia necessidade de invadir o apartamento naquele momento. Não precisava entrar", disse.

Lindemberg pediu perdão à família de Eloá por duas vezes. Disse que estava falando a verdade em respeito a eles.

O rapaz estava de costas para a plateia. Em alguns momentos, fez pausas para falar e embargou a voz. Mas não chorou. Não usou gírias.

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