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Barbara Gancia Onde estão as vítimas? A Livraria Cultura também é vítima ou deveria ser cobrada por negligenciar a segurança de seus clientes? VAMOS ESTRAGAR o café da manhã de novo? Então releia a nota publicada dias atrás na coluna da colega Mônica Bergamo: "Os pais do jovem atacado com um taco de beisebol na Livraria Cultura, em São Paulo, em 2009, estão pedindo na Justiça indenização de R$ 2 milhões por dano moral e material. Eles dizem que a segurança da loja falhou. Pedro Herz, dono da Cultura, diz que foi vítima também". O pão com manteiga atravessou na goela tudo de novo, não é? Gosto muito do Pedro Herz, ouso dizer que é meu amigo. Desde sempre sou tiete da livraria do Conjunto Nacional, acompanhei a expansão do seu negócio, frequento o teatro Eva Herz, nome da mãe do proprietário, bem como os das lojas dos shoppings. Já estive lá mediando palestras e participando de encontros de portadores de câncer e suas famílias e sei avaliar a contribuição que o empresário presta à cidade. São Paulo é bem mais feliz desde que seu negócio virou essa potência com rede de lojas, serviço de entrega rápida pela internet, cinemas, cafés, sistema de pontos nos cupons, é uma festa a Livraria Cultura do Pedro Herz. Mas tive uma sensação horrorosa ao ler que os pais do rapaz foram forçados a recorrer à Justiça para receber uma soma qualquer. O leitor deve lembrar do caso, muita gente acompanhou o sofrimento dos pais entrando e saindo das Clínicas. Foram 300 dias de vigília na UTI. O designer Henrique de Carvalho Pereira, 22, jamais recobrou a consciência. Morreu em 22 de outubro de 2010 e até hoje a mãe, professora do ensino público, passa por processo de readaptação para tentar voltar a dar aula. No calor da emoção, com o rapaz entubado na UTI, Pedro Herz se dispôs a ajudar a família. Henrique era designer gráfico e, dias antes de ser atacado na livraria, tivera o desenho de sua vaquinha aprovado no "Cow Parade". Pedro comprou a escultura por R$ 17 mil e deu o dinheiro à família. E só. Agora alega ser tão vítima quanto Henrique. "Tão vítima quanto" porque o assassino já havia atacado uma vitrine e depredado uma TV na mesma loja dias antes de chegar ao rapaz. Mas, se este é o caso, não se pode argumentar que, em vez de se colocar na posição de vítima, Pedro Herz e a Livraria Cultura deveriam estar sendo cobrados por negligenciar a segurança de seus clientes? Tudo indica que a defesa de Pedro Herz não quer abrir precedentes. O raciocínio parece ser o de que pagar a indenização agora significa abrir o flanco para futuras ações. Pode-se enxergar aí uma falácia. Ao fantasiar que exista como blindar o cliente contra o imponderável, os advogados de Herz esquecem de que cada caso é um caso. E tolhem dele a oportunidade de fazer o que é certo. A família de Henrique não buscou confronto. Apenas tentou reaver o que gastou no tratamento e no pós-vendavel que lhes arruinou a vida. Foi a imprensa que, por acaso, encontrou o processo em andamento na Justiça. E agora Pedro Herz, seus advogados e sua assessoria de imprensa armam um muro de silêncio ao redor da Livraria Cultura. O que eles não estão percebendo é que, em breve, pode ser necessário adicionar à guerreira equipe alguns estrategistas de marketing. Para lidar com danos à marca e à imagem. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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