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'Ajustadores' de relógios famosos têm dia corrido

Fim do horário de verão é sinônimo de trabalho

NATÁLIA CANCIAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

De uma mesa disposta em um salão no alto da torre da estação Júlio Prestes, ao lado da Sala São Paulo, Antônio Rodrigues de Lima, 69, vive um momento de espera.

São 16h de sábado e ele acaba de iniciar, com antecedência de algumas horas, o processo de ajuste do relógio, construído em 1939, para o fim do horário de verão.

Escolheu o horário para facilitar o trabalho diante da prova de fogo que irá encarar neste final de semana: só Toninho, como é conhecido, ajustará ao menos dez "relojões" emblemáticos em São Paulo e no litoral paulista.

O primeiro da lista, o relógio da estação Júlio Prestes, diz, é um dos seus prediletos: é o único, em São Paulo, movido por um sistema elétrico e mecânico juntos.

Tamanha tecnologia, porém, dá trabalho. Como o relógio não possui um dispositivo que permita que as horas "voltem" -com o fim do horário de verão, os relógios devem ser atrasados em uma hora-, a alternativa é parar o sistema por uma hora.

Para passar o tempo, Antônio leva um cronômetro e observa as luzes pelos vitrais.

Da estação Júlio Prestes, sai correndo para Santos, onde espera terminar o ajuste dos relógios até as 16h de hoje. "Se fosse no horário de verão, não levaria nem seis minutos para adiantar."

TRADIÇÃO NA FAMÍLIA

Augusto Fiorelli, 52, que herdou do avô a tarefa de ser um "homem do tempo", tem o mesmo desafio de Lima.

Para 11 relógios de São Paulo que levam seu cuidado, o horário de verão termina só a partir das 7h de hoje. O roteiro começa em uma igreja da Freguesia do Ó, segue para outra na Vila das Palmeiras, passa à torre da Luz, caminha em direção ao relógio das Casas Bahia e vira para as faculdades de direito e medicina da USP.

De lá, o trajeto continua até os relógios mais distantes de sua casa, como o da igreja Nossa Senhora do Carmo.

Prazo para quem passa por perto ver a hora certa? 15h.

"Já ajustei muitos à meia-noite. Não era bom. Era tudo escuro. Tinha barulho, ventania", conta ele.

Se os relógios de Fiorelli serão ajustados só na tarde de hoje, outros, porém, terão de esperar mais um pouco.

Na paróquia do Liceu Coração de Jesus, onde o relógio é acessado após a subida de 234 degraus, só um funcionário faz a mudança, informa uma secretária. "E ele não trabalha domingo, só segunda."

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