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Opinião Calor

O verão é delicioso, mas não em São Paulo

A cidade está muito mal preparada para o calor, como o da última semana

Por aqui, nem os ricos têm ar-condicionado em casa. A solução é o bom e velho ventilador. Ou, simplesmente, sair de casa

TONY GOES
COLUNISTA DO “F5”

Terça passada fui à abertura de uma exposição no Masp. De longe, já dava para ver que havia uma multidão no vão-livre do museu. "Que sucesso, hein?", comentei com um amigo. "Quanta gente com sede de cultura".

Mas aquelas pessoas estavam era com sede de verdade. Entre elas havia tantos homens de peito nu que cheguei a pensar que se tratava de uma manifestação de maltrapilhos. Outro engano.

Quase todos eram rapazes de classe média. Não eram sem-teto, mas sem vergonha de tirar a camisa no meio da avenida mais movimentada do Brasil. Gente comum, tentando "tomar a fresca" numa noite de calor absurdo.

Neste final de verão, São Paulo atravessa uma canícula tipicamente carioca: sol abrasador, dias abafados, noites em que o termômetro não baixa dos 28 graus. E sem a mais leve brisa. As folhas não se mexem nas árvores.

A cidade está extraordinariamente mal preparada para lidar com esse calorão todo. Até aí, nenhuma novidade: São Paulo também está despreparada para lidar com o frio, com as chuvas torrenciais e com praticamente qualquer outro fenômeno meteorológico.

Por aqui, nem os ricos costumam ter ar-condicionado em casa. Muitos prédios sequer permitem que se abra aquele buraquinho retangular na parede externa, para acomodar o aparelho. A solução é o bom e velho ventilador. Ou então, simplesmente sair de casa.

Mas para onde? Também não temos espaços públicos apropriados. Os parques são poucos. A selva de prédios só potencializa o bafo que enfrentamos nas ruas. Dá vontade de imitar os filmes americanos antigos e abrir um hidrante. Que por aqui, aliás, também são poucos.

Moro na região da Paulista, e, na quinta-feira, saí a campo para observar os efeitos de mais uma noite insuportável. Sempre há muitos pedestres nas calçadas, mas com o calor havia ainda mais. O vão do Masp estava repleto outra vez, transformado em clube gratuito e informal.

Pelo caminho, dezenas de skatistas, patinadores e até um camarada andando de "skywalker", aquelas pernas-de-pau modernas e flexíveis.

O verão é delicioso, mas à beira-mar e com um drinque na mão. Em São Paulo, a gente se vira como pode. Inclusive na cama, a noite toda, sem poder dormir.

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