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Bichos

JAIME SPITZCOVSKY - jaimespitz@uol.com.br

Um setter na luta pela Casa Branca

Seamus tornou-se o centro de uma polêmica sobre como Romney tratou seu cachorro em uma viagem de carro

A disputa para definir o candidato republicano à Presidência dos EUA conta com um inesperado personagem. O setter irlandês Seamus tornou-se o epicentro de uma polêmica travada há meses sobre como Mitt Romney, favorito para ganhar a corrida, tratou seu bicho de estimação numa viagem de carro, em 1983. Naquela ocasião, o cachorro passou 12 horas de viagem ao Canadá numa caixa de viagem colocada em cima do teto do veículo.

A saga de Seamus invadiu o debate há alguns meses e não desaparece do tiroteio político. O principal estrategista da campanha do ex-senador Rick Santorum, rival mais robusto de Romney, disparou: "Muito francamente, não tenho certeza de que irei ouvir os juízos de valor de uma pessoa que amarrou seu cão no teto de um carro", declarou John Brabender à CNN na semana passada.

No longo caminho, Seamus enfrentou uma diarreia. Romney parou num posto de gasolina e, com uma mangueira, lavou o cachorro e o automóvel para seguir viagem. Detratores exploram o episódio na tentativa de colar o rótulo de um "administrador frio" no ex-governador de Massachusetts. O Facebook abriga um protesto batizado de "Cães contra Romney", que já reúne dezenas de milhares de fãs.

Semana passada, Chris Cillizza, em coluna no vetusto "The Washington Post", buscou explicar como um país engolido por uma das maiores crises econômicas de sua história recente insiste em manter o desconforto de Seamus no alvo dos holofotes. O esforço dos inimigos do pré-candidato republicano consiste em caracterizá-lo, segundo o colunista, como "indiferente ao bem-estar dos outros" e "diferente de você", referindo-se ao eleitor. "Para muita gente, a ideia de colocar um cão [mesmo numa gaiola] no teto do carro equivale a colocar uma de suas crianças lá em cima", escreveu Cillizza.

A campanha de Romney prefere, nos últimos tempos, manter silêncio sobre a controvérsia canina. Talvez imagine que, com o tempo, ela se esvaia. O pré-candidato preferiu se defender em voz alta, declarando seu amor pelos cachorros. Argumentou ainda, numa transferência de responsabilidade ao bicho de estimação, que o setter irlandês não se importava em viajar no teto do carro.

Um contra-ataque da campanha de Romney desencavou um evento de 2006, quando o então governador de Massachusetts declarou setembro como "mês da posse responsável de cachorros" em seu Estado. A cerimônia na sede do governo estadual chegou a reunir uma matilha de 11 cães e 35 humanos.

Figuras públicas sabem que pagam o preço de ter suas vidas esquadrinhadas, em especial se forem políticos que almejam a Casa Branca.

Certamente, muitos dirão ser um absurdo desperdiçar tempo numa campanha política com o debate sobre o desconforto imposto a Seamus. Acho que não. Quando uma sociedade discute, em rede nacional,

a posse responsável de um animal, dá passos na direção correta, mesmo se aqueles que levantam o tema estiverem mais interessados em

derrotar Romney do que em auxi-liar nossos hóspedes de outras espécies. Fico imaginando quando teremos um debate dessa amplitude por aqui.

AMANHÃ EM COTIDIANO
Francisco Daudt

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