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Água rara

Dia mundial lembra hoje a importância da preservação do recurso natural

EDUARDO GERAQUE
DE SÃO PAULO

Conseguir água de qualidade para o abastecimento das quase 20 milhões de pessoas que vivem na Grande São Paulo está cada vez mais difícil. Hoje, quase metade da água que sai pelas torneiras da região precisa ser "importada" de bacias vizinhas.

O sistema Cantareira, por exemplo, um dos que abastecem a região metropolitana, incorpora a água que vem da bacia do rio Piracicaba.

E essa necessidade de buscar o recurso cada vez mais longe vai encarecer cada vez mais a água na próxima década, porque haverá disputa tarifária entre as regiões, dizem especialistas.

Os gestores da Sabesp concordam com a tese da falta da água a partir de 2020. A empresa quer buscar água no Vale do Ribeira, a 80 km, em um projeto de R$ 1 bilhão.

Hoje, os 69 mil litros de água que municiam a rede pública por segundo atendem todas as residências.

Indústria e irrigação precisam recorrer a outras fontes, como reservatórios subterrâneos (que vêm de lençóis freáticos, e não de rios).

CLIMA

A tendência, dizem os especialistas em mudanças climáticas, é de mais chuvas nos centros urbanos e de menos temporais nas periferias -justamente onde estão represas de abastecimento. Isso é causado pela verticalização das cidades, que aumenta as chamadas "ilhas de calor".

Além disso, o uso e ocupação do solo ao redor destes pontos de captação continuam sem controle, segundo urbanistas. Isso aumenta a poluição da área, o que deixa o tratamento ainda mais caro.

"Os governos desrespeitam os padrões de segurança da água preconizados pela ONU", diz Renato Tagnin, urbanista especialista em planejamento ambiental.

"A situação é crítica e a população não é corretamente informada", afirma.

Wagner Ribeiro da Costa, geógrafo da USP também especialista em questões de água, questiona a presença do setor privado na cidade.

"Não seria o caso de avaliar a pertinência em manter indústrias intensivas no uso da água na região metropolitana de São Paulo?"

De acordo com números do setor, somando água de mananciais e subterrâneas, 58% do total da água captada na Grande SP vai para o uso público. Enquanto isso, 39% vai para o setor industrial.

Os dois especialistas concordam que falta uma abordagem sistêmica do problema que envolve a água. De acordo com eles, o "estresse hídrico" vivido hoje vai passar, em menos de uma década, para problema de escassez de água.

Colaborou SABINE RIGHETTI

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