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Chico Anysio (1931-2012)

Criador de tipos inesquecíveis e bordões célebres, ator cearense "de língua solta" foi escritor, compositor e pintor

Leonardo Wen - 30.jun.09/Folhapress
Chico Anysio posa em sua casa nos Jardins, em São Paulo, em 2009
Chico Anysio posa em sua casa nos Jardins, em São Paulo, em 2009

DO RIO

Um dos maiores nomes do humor brasileiro, criador de inúmeros personagens e bordões célebres, Chico Anysio morreu ontem, às 14h52, no Rio, aos 80 anos, vítima de um choque séptico causado por infecção pulmonar, após duas paradas cardíacas.

Internado desde novembro no Hospital Samaritano, em Botafogo (zona sul), teve uma série de problemas digestivos e cardiorrespiratórios ao longo de quase quatro meses.

Cearense de Maranguape, Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho construiu uma carreira de mais de seis décadas como radialista, escritor e ator de teatro, cinema e TV.

Dizia que gostaria de morrer atuando e continuou trabalhando enquanto pôde, mesmo após longa internação entre dezembro de 2010 e março de 2011, quando entrou em coma três vezes.

Ao receber alta, em abril passado, voltou a gravar o semanal "Zorra Total", fazendo Salomé. Exemplo maior do lado político de seu humor, ela, que falava ao telefone com o general Figueiredo, último presidente da ditadura militar, apareceu ligando para Dilma Rousseff.

Foi o último personagem de uma carreira que eternizou tipos como Bento Carneiro, o vampiro brasileiro ("Minha vingança sará malígrina"), Nazareno ("Ca-la-da!") e o corrupto Justo Veríssimo ("Eu quero que pobre se exploda"). "Este país cresceu me vendo", disse em entrevista à Folha, em 2007.

DO RÁDIO À TV

"Ele trouxe o humor radiofônico para a TV, incorporando fisionomia e gestual às vozes que criara no rádio", disse José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, amigo e diretor da Globo no auge da carreira do comediante.

Chico tinha particular orgulho da "Escolinha do Professor Raimundo", que estreou no rádio em 1952 e na TV em 1957, alavancando sua carreira e abrindo as portas para gerações de humoristas.

Paralelamente à carreira de sucesso na TV e no teatro, escreveu mais de 20 livros de contos (e uma biografia, "Sou Francisco", em 1992), gravou mais de 30 discos e foi pintor.

Queria "abraçar o mundo com as pernas", nas palavras de seu amigo Ziraldo. "É inacreditável um sujeito com esse poder ser inseguro, mas o ego dele era muito grande, não se satisfazia com o sucesso que tinha. Queria ser respeitado como escritor, pintor, comentarista de futebol."

Assumidamente "um cara de língua solta", comprou inúmeras brigas com colegas, notadamente com os mais novos; depois, faria as pazes com todos ("Meu esporte predileto é me retratar", dizia).

Na Globo desde 1969, após 30 anos de sucesso viu a carreira declinar. Ficou quase dez anos sem programa a partir do fim de 2001, fazendo só participações na televisão.

DEPRESSÃO

Esse período acentuou antiga depressão e o deixou ressentido. Em entrevistas, shows e em seu blog, criticava a emissora e os colegas.

"O fato de eu atuar na TV faz com que se cometa a barbaridade de editarem um livro, 'Cem Melhores Contos Brasileiros', e não incluírem nenhum meu. Minhas músicas são quase renegadas, minha pintura é desqualificada, meus comentários de futebol são considerados idiotas, minhas poesias nem chegam a ser lidas", disse, em 2002.

Precursor do "stand-up", ele retomou shows individuais e em parceria com os filhos e com Tom Cavalcante no período longe da TV.

Uma das últimas aparições públicas foi em outubro passado, ao receber o Prêmio Especial do Júri do Festival do Rio pela atuação em "A Hora e a Vez de Augusto Matraga".

Numa cadeira de rodas, discursou com humor. "Recebo este prêmio como um incentivo. Fiz todos os filmes para os quais me convidaram: quatro. Mais não fiz porque não me convidaram. Acharam que eu ia cobrar muito caro -e ia mesmo."

Casado com a empresária Malga di Paula (sua sexta cônjuge), teve oito filhos e um enteado. Vários deles seguiram a vida artística.

O corpo de Chico Anysio será velado hoje, no Theatro Municipal do Rio, com acesso ao público a partir das 14h. A cremação acontece amanhã, em cerimônia restrita aos familiares.

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