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Depoimento

"Deixa legado, mas não deixa substituto"

LÚCIO MAURO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Chico Anysio não era meu amigo, era meu irmão. Nos conhecemos no no começo dos anos 1940, quando trabalhávamos na Rádio Clube de Pernambuco. Ele era assistente de redação do grande escritor Antônio Maria.

Anos depois, mudei para o Rio de Janeiro e nos falávamos por carta e telefone. Ele emigrou em seguida. Continuou trabalhando em rádio, mas logo fez um teste para a TV.

Ele se tornou, como é típico dos gênios, um fenômeno desde a estreia.

Um fenômeno porque Chico foi mestre de si mesmo, não teve modelos. Era talentoso e tinha uma força criativa gigantesca.

Quem, na história da dramaturgia brasileira, foi capaz de criar 209 personagens e interpretá-los com maestria, sem desnível entre eles?

E ele era tão generoso quanto genial. Descobriu, lapidou, lançou e ensinou aos maiores nomes do humor brasileiros das últimas cinco décadas.

Chico sempre se esquivava de responder qual o seu personagem preferido.

Eu arriscaria dizer que, no seu íntimo, era o Professor Raimundo, porque era uma síntese de suas maiores qualidades.

Primeiro pela força do personagem, marcante pelo tipo e pelo bordão.

Em segundo lugar, pela generosidade de reger, como se fosse um maestro, dezenas de talentos descobertos por seu olho afiado.

É preciso que se diga que ninguém o afastou da TV. Houve o contrário.

Não havia hipótese de ele, sendo o que era, conviver com tanta incompetência e burrice, que se alastrou nos últimos anos.

Trocando em miúdos, Chico deixa legado mas não deixa substituto. Não há ninguém à sua altura.

Se um dia a história for justa com a memória dele, terá de dizer, no mínimo, que foi maior do que Charles Chaplin.

LÚCIO MAURO, 85, é ator.

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