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Concentração de morador de rua 'assusta' bairro nobre

Grupo nos Jardins atribui aglomeração a espaço que oferece refeições e banho

Reclamação é por conta de 'algazarra' e supostos crimes cometidos pelos frequentadores de centro de convivência

AFONSO BENITES
DE SÃO PAULO

Iluminado pela fraca luz de um poste, um morador de rua lê o livro de autoajuda "A Grande Esperança", de Ellen White. São quase 5h de quinta e o auxiliar de pintor Gerson de Oliveira, viciado em leitura, está no fim da fila para entrar no centro de convivência São Luís, na avenida Rebouças, no Jardim Paulista, zona oeste de São Paulo.

Na frente dele, há quase cem moradores de rua e viciados em crack esperando a abertura do local, às 7h30, para poderem tomar banho, comer o café da manhã e, mais tarde, almoçar.

Administrado pela prefeitura e por uma ONG vinculada ao Colégio São Luís, o espaço, que atende a 120 pessoas em situação de risco por dia, existe no mesmo local desde 1997. Moradores e comerciantes dos Jardins, porém, estão incomodados com o espaço e querem fechá-lo.

"Piorou nos últimos anos. À noite tem viciados que tentam roubar nossos clientes", diz o educador Sérgio De Rose, dono de uma escola vizinha ao espaço.

Outra reclamação é que todos os dias, por volta das 23h, os moradores de rua começam a se aglomerar fazendo barulho. Para amenizar a algazarra, ao menos dois guardas-civis passaram a acompanhar a abertura do centro.

O possível fechamento da casa foi um dos assuntos mais comentados nas últimas reuniões do Conseg (Conselho Comunitário de Segurança) dos Jardins. A presidente do órgão, a advogada Maria Tereza Cabral, diz que já pediu para a prefeitura mudar os moradores de local, mas a resposta foi negativa.

"A prefeitura não encontrou outro imóvel para abrigar o pessoal", disse Cabral.

Segundo a Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Assistência Social, a busca já dura dois anos. Em nota, o órgão informou que procura um imóvel para se mudar, naquela mesma região.

JOIO DO TRIGO

Quatro frequentadores do local ouvidos pela Folha dizem que não é possível dizer que todos que lá estão são "bandidos". "Sofremos preconceito porque vivemos na rua. Só cato latinha e peço dinheiro", afirmou o desempregado Jonas Rodrigues.

Também há comerciantes que são contrários ao fechamento do local. "É uma ignorância fechar esse lugar. As pessoas só querem varrer o problema para a varanda do vizinho. Se não ficarem aqui, vão para outro bairro e a reclamação vai continuar", disse o gerente Rodolfo Ruas.

E se o centro fechar?

"Aí minha esperança será o lixo desses prédios de rico. Só lá que vou achar comida", afirmou Oliveira, aquele leitor de livros de autoajuda.

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