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Simões Filho, a capital da morte

Com taxa de homicídios cinco vezes maior que a (já altíssima) média nacional, cidade baiana ganha título de mais violenta do país e culpa o tráfico

DIÓGENES MUNIZ
INARA CHAYAMITI
ENVIADOS ESPECIAIS A SIMÕES FILHO (BA)

"Aqui é a cidade do corte! Aqui a gente trata na bala!" A fala é de um morador de Simões Filho (BA), município da região metropolitana de Salvador com 112 mil habitantes e que tem o título de mais violento do país.

"Isso daqui é tudo major morto", continua o sujeito, sem se identificar, apontando para as gavetas do superlotado cemitério São Miguel.

A cidade é apontada como a mais perigosa do Brasil no Mapa da Violência 2012, publicado em dezembro passado pelo Instituto Sangari.

Na média entre 2008 e 2010, Simões Filho teve 146 homicídios por 100 mil habitantes. O estudo considera epidêmicas taxas a partir de dez mortes por 100 mil pessoas. A divulgação do ranking não chegou a surpreender quem vive lá. No Mapa da Violência 2011, a cidade já ocupava a vice-liderança.

TRÁFICO E MILÍCIA

A "TV Folha" visitou o local, a 23 km da capital baiana, no mês passado. A reportagem flagrou dois corpos jogados na BA-528 (estrada do Derba). Ambos com sinais de espancamento, marcas de tiro e punhos algemados.

"Mais de 60% dos homicídios aqui são causados pela ação do tráfico", diz o delegado Antonio Fernando Soares do Carmo, da 22ª delegacia. Ele admite, no entanto, que os corpos encontrados com algemas em fevereiro tinham indícios de que foram vítimas da ação de milicianos.

As vítimas de Simões Filhos são encaminhadas para o Instituto Médico Legal de Salvador, já que a cidade não possui IML próprio.

"Todo dia tem óbito aqui que vem de Simões Filho", relata Ana Paula Teixeira, funcionária responsável pelo atendimento às famílias que chegam no IML da capital.

Para a florista Josineide Gomes, 39, "o que mais tem na cidade é enterro". Seu sobrinho foi assassinado aos 16 anos. "Acho que ele se envolveu [com o tráfico]. Mataram e ainda cortaram os testículos", desabafa.

Há também quem veja oportunidades de negócios pela cidade liderar os índices de violência. "Simões Filho, para mim, foi um atrativo porque percebemos que existe uma fragilidade na área da segurança lá. Nossa companhia cresce em torno 40% ao ano", diz, Marcos Carvalho Santana, sócio da empresa de segurança privada Escolta VIP.

Logo atrás da violência, a falta de opções de lazer na cidade é uma das principais reclamações de quem vive em Simões Filho.

"As opções aqui são bar ou igreja", resume o professor de matemática Rodrigo Magalhães, 24.

"Fora isso, temos muita corrupção", diz Magalhães. Desde 1992, a prefeitura é palco da alternância de poder entre dois políticos.

Este já é o terceiro mandato de José Eduardo Mendonça de Alencar (PSD). Alencar é alvo de quatro ações do Ministério Público Federal por improbidade administrativa.

Seu antecessor, Edson Almeida de Jesus (PT), foi condenado por improbidade administrativa em 2008 e recorre da decisão.

OUTRO LADO

Em 2011, a prefeitura rebateu o ranking do Mapa da Violência alegando que muitos dos assassinatos ocorridos nas cidades vizinhas acabam "desovados" nas estradas de Simões Filho.

A PM admite que há bairros com forte influência do tráfico e de difícil acesso para as autoridades. Procurado durante três semanas, o prefeito não quis dar entrevista.

FOLHA.com
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