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Sem medo do perigo

Juíza diz não ter receio de substituir antecessora assassinada, embora critique falta de segurança

DIANA BRITO
DO RIO

Sete meses após o assassinato da juíza Patrícia Acioli, 47, pouca coisa mudou em relação à segurança de magistrados que atuam em casos considerados de alto risco.

A avaliação é da juíza Alessandra da Rocha Lima Roidis, 37, nova titular da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo, no Rio, onde Acioli trabalhava.

"Eu queria que os tribunais dessem mais segurança aos juízes, que houvesse uma estrutura de trabalho em que nos sentíssemos seguros para exercer a profissão", diz Roidis, afirmando que, se for preciso, pedirá ao presidente do Tribunal de Justiça do Rio escolta para ir trabalhar.

A preocupação, afirma, não significa que tenha receio de substituir a juíza assassinada. "Para mim, é uma vara como outra qualquer."

Não foi o que pensou sua família quando soube da novidade. "Meus pais disseram: 'Precisava ser justamente essa vara?'. Não gostaram. Já o meu marido compreende porque é advogado", conta.

A juíza só assumirá suas novas funções em agosto. Até lá, em licença maternidade, cuidará de sua primeira filha.

Segunda maior cidade do Estado, com cerca de 1 milhão de habitantes, São Gonçalo não acompanha a queda de homicídios no Rio de Janeiro. Há dez anos, mantém uma taxa de 40 assassinatos por 100 mil habitantes (em 2010, o Estado tinha 26 mortes por 100 mil habitantes).

Desde a década de 1980, grupos de extermínios formados por policiais atuam na região. A cidade possui um único tribunal, o que mais faz júris no Rio de Janeiro -o dobro de alguns da capital.

Em 2011, foram afastados dois comandantes da PM: o tenente-coronel Cláudio Oliveira, sob acusação de ser o mandante do assassinato de Acioli e o coronel Djalma Beltrami, acusado de cobrar propina do tráfico de drogas.

VOCAÇÃO

A carreira da juíza começou há nove anos, quando passou em concurso. Tinha seis anos de formada, tentara exercer a advocacia, mas achou que não tinha vocação. Já atuou em varas criminais de Barra do Piraí (a 127 km do Rio), Duque de Caxias e Queimados (Baixada Fluminense).

Diz que o julgamento mais importante no qual atuou foi o de quatro jovens acusados de matar a pedradas um travesti, em Barra do Piraí. Os jovens foram absolvidos.

"O júri levou comoção à cidade. Todo mundo chorou no plenário", recorda-se.

Roidis é apontada como "linha-dura" pelos colegas -da mesma forma que Acioli. Ela diz que é apenas exigente. Embora não conhecesse a antecessora, foi ao seu enterro. Não sabia que, meses depois, assumiria seu lugar.

Por decisão da 3ª Vara Criminal de Niterói, os 11 PMs acusados de matar Patrícia Acioli com 21 tiros quando ela chegava em casa, deverão ir à júri popular, mas os réus entraram com recurso, ainda não julgado, contra a decisão.

POSIÇÕES

Alessandra Roidis afirma ser "totalmente contra" a criminalização do jogo do bicho, pois "não resolveria nada".

Diz ser neutra em relação à discussão sobre a inclusão, entre os crimes previstos no Código Penal, da participação em milícias e defende a necessidade de amparo legal para o internamento compulsório de dependentes químicos "porque o juiz, muitas vezes, se vê perdido e tem que usar a criatividade".

Professora de processo penal e aluna de pós-graduação em ciências criminais diz que os estudos, agora, estão de lado. "Só tenho tempo de ler sobre cuidados com bebês."

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