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'Tenho que segurar a respiração', diz ciclista

Quem trabalha na região do rio Pinheiros, passageiros dos trens e usuários da ciclovia sofrem com o mau cheiro

Para governo do Estado, acabar com o fedor que atinge a região é também uma questão de saúde pública

DE SÃO PAULO

Se existe algo comum ao entorno no rio Pinheiros é o mau cheiro. Passageiros de trens, usuários da ciclovia à margem do rio, executivos -não há quem não sinta nem deixe de reclamar do fedor.

Os piores dias são os de calor, afirmam todos.

"Tenho que segurar a respiração às vezes, ou pedalar mais devagar", diz o professor Sandro Martins, 39, que, na tarde ensolarada de terça-feira, andava de bicicleta na ciclovia da marginal Pinheiros, hábito que adquiriu há um ano, para emagrecer.

Onde ele andava, entre as estações Vila Olímpia e Berrini, na linha 9-esmeralda da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), o rio exalava cheiro de esgoto que, com o vento, chegava a causar engulho.

Alexandre Bragadim, 37, analista de TI, diz que o pior é quando o trem abre a porta e o fedor vem de uma vez. Ele mora no Tatuapé, na zona leste, e trabalha na marginal; o local é seu caminho diário.

Melhor era investir em limpar o rio, em vez de tirar o cheiro, diz a empresária Francis Tordin, 34, dona de uma loja no shopping Eldorado. Assim, diz, dois problemas seriam resolvidos de uma vez.

SEM SOLUÇÃO

Responsável pelo paisagismo do shopping Cidade Jardim, Maria João D'Orey concorda com Francis. O projeto de tirar o cheiro do rio, diz, lhe parece "conversa para boi dormir". "O que precisa ser tratado mesmo é o rio como um todo, não só o cheiro."

Pedro Mancuso, professor da USP, afirma não ser apenas uma solução cosmética, pois as pessoas sofrem com os efeitos do mau cheiro.

O governo do Estado também fala que tirar o cheiro do rio Pinheiros é uma questão de saúde pública.

Do ponto de vista paisagístico, não há o que fazer para eliminar o odor, afirma. "Não há planta que elimine. Eu já senti o cheiro dentro do shopping. Não é sempre, mas em dias de verão, com muito calor, chega lá dentro."

Os corredores do shopping e as lojas têm aromatizantes. Segundo o estabelecimento, as essências não são para combater o fedor, mas para dar identidade ao local.

Maria João diz o mesmo. Cheiro, afirma ela, não é problema para os empreendimentos da região. "O shopping está bombando, ninguém deixa de ir lá. Não acho que atrapalhe as vendas."

Para o ramo imobiliário, a avaliação é a mesma: "Hoje em São Paulo, para morar, o que é bom ou tem barulho de avião ou cheiro de rio. Não tem escapatória", diz Frederica Garabedian, corretora de imóveis de "altíssimo"padrão.

Ninguém deixa de comprar um apartamento no condomínio Cidade Jardim por causa do cheiro, diz ela. No local, diz Frederica, um imóvel vale R$ 3 milhões, "o menor".

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