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Baila comigo

Entre galinhas e pavões, um grupo festivo de 50 aos 85 anos se reúne num salão tipicamente interiorano no coração do parque da Água Branca

Gabo Morales/Folhapress
Oscar Furlanetto, 85, e Francisca de Jesus, 82, dançam no parque da Água Branca
Oscar Furlanetto, 85, e Francisca de Jesus, 82, dançam no parque da Água Branca

MARIANA DESIDÉRIO
DE SÃO PAULO

Hoje é dia baile. Damas e cavalheiros chegam ao salão, de onde um xaxado animado já escapa pelas paredes. Vestidos vistosos, colares e enfeites de cabelo compõem o figurino feminino. No masculino, sapatos lustrados e paletós. Os pares vão se formando e, em dez minutos, o espaço está tomado pela dança, ao som de forró e sertanejo.

Do lado de fora, árvores enormes fazem sombra para quem caminha embaixo. Casarões de paredes amarelas e grandes portas de madeira completam o cenário, típico de cidadezinha do interior.

Mas estamos na movimentada avenida Francisco Matarazzo, na zona oeste de São Paulo. O local é o parque da Água Branca. É nesta paisagem bucólica encravada na metrópole que, toda semana, centenas de vovôs e vovós se reúnem para dançar.

"Dançamos para todo lado, senão a gente enferruja!", brinca Francisca Rocha de Jesus, do alto de seus 82 anos. Vaidosa, na terça-feira ela estava com um vestido longo rosa todo pregueado. Os cabelos pretos presos formam uma comprida trança. Viúva, Francisca conheceu seu par, Oscar Furlanetto, 85, em um baile na Rádio Atual, há 23 anos.

Histórias como essa parecem ter unido outros casais. Olívia de Sousa Torres, 82, e Laerte Cyrrilo, 78, mostram orgulhosos a aliança no dedo. Conheceram-se ali mesmo, há um ano: "O parque da Água Branca uniu dois corações", lembra Laerte.

O baile no parque chega a reunir cerca de 400 pessoas toda terça e sábado e no domingo de 15 em 15 dias.

SUCESSOS

"Ela sentiu saudade/ Ela me ligou/ E por telefone ela chorou, chorou..." A música de Gino e Geno -dupla sertaneja que faz sucesso entre os "bisos" no salão- dá o ritmo para a dança de Hélio Pereira, 75. O metalúrgico aposentado frequenta bailes desde a juventude e já ganhou prêmio de dançarino. Foi até eleito mister elegância em São Miguel, na zona leste.

Com os cabelos aparados, suspensórios e sapatos novinhos, Hélio faz um sucesso danado. "Sou muito vaidoso. Minha mulher morre de ciúme. Diz que elas dão em cima de mim. Fazer o quê?"

Nem todos os que frequentam o baile são dançarinos 'veteranos'. A dona de casa Lindinalva Ferreira de Souza, 67, fez sua 'estreia' há 10 anos, depois de viúva.

Lindinalva confessa: sempre gostou de dançar. Mas o marido, 20 anos mais velho do que ela, não era muito de sair. Agora, com os filhos criados, ela vem se divertir no parque. "Gosto de agito. Não gosto de coisa, mole não!"

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