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Datafolha mapeia perfil dos baladeiros paulistanos

Maioria dos 'noturnos' é homem, solteiro, tem nível superior e vive com os pais

Gasto médio é de R$ 109 por balada; 30% dos entrevistados em oito áreas boêmias dizem beber e dirigir

MICHELE OLIVEIRA
DE SÃO PAULO

Se a biologia ousasse classificar os seres paulistanos, o baladeiro seria mais uma ordem do que uma espécie.

Dentro da categoria baladeiro, há subdivisões que vão do sertanejo universitário ao gay urso (homem grande e peludo), passando por tipos mais conhecidos, como o fã de MPB ao vivo e o playboy consumidor de techno e energético.

Para desvendar esse reino, o Datafolha e a reportagem saíram às ruas para saber como vivem esses seres noturnos, com quem se relacionam, o que bebem, como se locomovem, o que gostam de ouvir e o quanto gastam na noite.

Realizado entre os dias 1º e 4 de março nos oito principais redutos de bares, casas noturnas e restaurantes, o levantamento revelou, por exemplo, que os habituês do Tatuapé, na zona leste, são os que mais gastam dinheiro na noite e que os de Santana, na zona norte, são os que mais bebem uísque.

"São Paulo é uma cidade que por si só já mostra muito contraste, e a noite também reflete isso", diz Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha.

Segundo Paulino, a pesquisa revela aspectos que ficam escondidos quando se fala do hábito de sair à noite.

Por exemplo: mostra que sair de segunda a segunda (para jantar, beber ou dançar) é a rotina de 5% dos que costumam frequentar a noite. Entre separados e divorciados, sobe para 15% -mais do que solteiros (4%) e casados (8%).

"Voltar à pista" ou "voltar ao mercado", como dizem, é a realidade do gestor de tecnologia da informação Eudival da Silva Junior, 29. Separado de um casamento de quatro anos, tem saído seis vezes por semana na região do Tatuapé, onde ouve sertanejo.

Eudival garante que a paquera não é a meta. Mas admite que dançar é um bom jeito de se aproximar. "Estou saindo com uma pessoa que também conheci na balada. Vamos ver no que dá."

DISPARIDADE

No geral, pode-se dizer que o baladeiro que frequenta Pinheiros, Moema, Itaim Bibi, Consolação, Bela Vista e Jardim Paulista, além de Tatuapé e Santana, é na grande maioria heterossexual (93%) e solteiro (82%), pertence às classes A e B (85%), tem 28 anos em média, formou-se na faculdade (67%), é homem (67%) e mora com os pais (60%).

Porém, quando se comparam os resultados de cada área, os contrastes saltam.

Em Moema (zona sul) estão os que mais saem com o marido ou a mulher -17%, ante 8% no geral. Já a Bela Vista, no centro, tem o maior percentual de quem costuma sair sozinho: 23%, ante 13% no geral.

No estilo musical, a mesma coisa. Os frequentadores dos Jardins são os que mais gostam de rock, jazz e música clássica. Já em Santana, estão os que mais curtem sertanejo, pagode, forró, rap e reggae.

BOLSO

No quesito grana, uma curiosidade: o baladeiro do Tatuapé, quando sai no fim de semana, gasta por noite, em média, quase R$ 50 a mais do que o da Consolação (R$ 135,80 versus R$ 87,20). A média das oito regiões é de R$ 109,70.

Uma explicação pode vir do fato de o Tatuapé ter o maior índice de quem mora com os pais (74%). Na Consolação, são só 37% -lá, outros 32% moram sozinhos.

Uma conclusão possível é que o frequentador do Tatuapé gasta menos com as contas de casa, sobrando mais dinheiro para torrar na noite.

ÁLCOOL E DROGAS

Outro aspecto tem a ver com álcool e drogas. Quando saem, 95% dos baladeiros bebem -a cerveja é citada por 89%. Outros 51% são fumantes (com a lei antifumo, 40% dizem que fumam agora na calçada...).

Na questão álcool mais volante, tão discutida atualmente por conta da lei seca, um alerta: 30% dos que costumam sair à noite admitem que bebem e, depois, dirigem.

Chama a atenção o fato desse percentual subir 14 pontos entre quem é da classe A (44%) e outros dez entre os que têm de 26 a 40 anos (40%).

Sobre as drogas ilícitas, a maioria (57%) revela que já experimentou maconha.

Em relação a outras drogas, um terço (34%) já provou. As mais citadas são cocaína (19%), lança-perfume (19%), ecstasy (17%) e LSD (15%).

Sobre as repostas de álcool e drogas, Mauro Paulino, do Datafolha, faz uma observação importante. "Esses dados tendem a ser subnotificados, menores do que a realidade. Mesmo assim, já é muita gente admitindo."

Sofia, 25, se diz usuária de drogas (LSD, maconha, ecstasy) e afirma se sentir mais à vontade para consumi-las na rua Augusta (centro).

Ela resume o sentimento da rua mais agitada da cidade de São Paulo: "Aqui, por mais esquisito que seja, você é aceito, ninguém te julga". Para o bem e para o mal.

Colaborou SARAH MALUF

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