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Pedestre anda meio desligado, diz motorista

Segundo pesquisa da CET, condutores dizem que não param em faixa porque não sabem se pessoa vai ou não atravessar

Companhia de trânsito pede ação mais ativa de pedestres, como o sinal com a mão na hora de cruzar vias paulistanas

ANDRÉ MONTEIRO
DE SÃO PAULO
REYNALDO TUROLLO JR.
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quase um ano após o início da campanha de proteção ao pedestre em São Paulo, novas pesquisas feitas pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) revelam que, em locais onde há faixa, mas não há semáforo, os motoristas não param e põem a culpa na "distração" de quem está a pé.

Os dados foram divulgados ontem pela CET. Mais da metade dos 404 motoristas entrevistados disseram não respeitar a faixa nessas condições porque o pedestre fica "distraído, olhando para os lados".

Os condutores reclamaram também de pedestres que falam ao celular, conversam com amigos ou ficam desatentos fumando um cigarro.

Por isso, alegaram os motoristas, fica difícil saber se o pedestre quer de fato atravessar a rua naquele momento.

"Tem que ter bom-senso das duas partes. Se ele [pedestre] está ao telefone, é porque não está preocupado em atravessar", diz o motorista Júlio César Tavares, 52.

Já os pedestres disseram na mesma pesquisa que, quando querem atravessar, não sinalizam, apenas esperam uma "brecha", por medo ou falta de costume.

Para a superintendente de educação no trânsito da CET, Nancy Schneider, a pesquisa torna claro que falta ao pedestre "assumir seu papel" e ser mais pró-ativo na travessia.

"Temos que bater na tecla para o pedestre se manifestar. A campanha é para ele", diz. "O motorista está querendo parar [na faixa], mas fica na dúvida."

A pesquisa mostra ainda que o "gesto do pedestre" -sinal feito com a mão para pedir passagem- é uma das orientações da CET que ainda "não pegaram". Motoristas e pedestres concordam que ele é muito pouco usado nas ruas.

A estudante Adriana Martins, 27, é uma das poucas pessoas que dizem fazer o gesto. Ela conta que foi atropelada por um carro na rua Augusta (região central de São Paulo) quando tinha dez anos -quebrou um fêmur e a bacia-, o que a tornou mais cuidadosa.

"Aqui [na rua Frei Caneca] não tem semáforo na maioria dos cruzamentos e os carros não param. Mas quando eu faço [o gesto], funciona um pouco mais", afirma.

Para ela, porém, as respostas dos motoristas ouvidos pela CET não condizem com a realidade na maioria das vezes. "Não acho que [os motoristas] fiquem em dúvida", diz.

A superintendente de edução da CET diz não acreditar que os motoristas tenham dissimulado suas respostas.

"Eu própria fico em dúvida se o pedestre quer atravessar. A gente sente que falta essa manifestação mais clara [do pedestre]", diz Nancy.

RESPOSTAS X REALIDADE

Outra pesquisa da CET, feita em fevereiro em cinco esquinas do centro, mostra que enquanto 97% dos condutores de carros disseram respeitar a faixa, uma contagem mostrou que em 73% dos casos isso não aconteceu.

E, ao mesmo tempo em que 97,5% dos motoristas afirmaram que têm respeitado mais os pedestres, só 59,3% destes disseram ter percebido isso.

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