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Cova rasa

Em cemitério de Francisco Morato, área destinada aos que não podem pagar por jazigo tem mato alto, falta de identificação e cavalos pastando sobre túmulos

BRUNO BENEVIDES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Mato alto, mau cheiro, moscas, garrafas vazias jogadas no chão, confusão para localizar os familiares enterrados, restos de roupa e de ossos, cavalos pastando.

O cenário contrasta com a grama verde e aparada, as flores, os nomes e fotos nas lápides e a placa orientando a não jogar lixo da outra área do mesmo cemitério, destinada aos que podem pagar por um jazigo no Jardim Moratense, em Francisco Morato.

Ana Donizete Azevedo, que caminha duas horas e meia a cada 15 dias para visitar o túmulo de familiares, comemora o fato de, há um ano, eles estarem na área mais nobre, chamada de jardim. "No outro local, os mortos são colocados diretamente na terra."

Na área bem cuidada, o familiar precisa desembolsar R$ 2.390 por um jazigo de quatro andares. Na outra parte, estão os corpos das famílias que não têm como pagar.

Para recebê-los, o cemitério ganha até R$ 6.000 por mês da prefeitura, segundo o dono do Jardim Moratense, Abdul Karim Nagil Moussad.

O convênio foi feito porque não há mais vagas no cemitério público nem área livre para que outro seja construído na cidade.

PRESTAÇÃO

"Na área da prefeitura, os ossos ficam para fora da sepultura e cavalos passam por cima dos túmulos", conta Ana Donizete.

Os corpos de seus familiares estavam enterrados até o ano passado nessa ala. A situação mudou quando a família de um de seus irmãos conseguiu comprar um jazigo no cemitério e transferiu os outros corpos de parentes.

Para evitar que familiares tivessem de ser enterrados na área que é paga pela prefeitura, Alcis Ferreira Costa decidiu comprar um jazigo no cemitério Jardim Moratense.

Ele afirma ter parcelado a aquisição em 36 vezes. Com os juros cobrados, o túmulo custou quase R$ 3.000.

Além disso, é preciso pagar R$ 45 a cada três meses para manutenção.

Um ano depois do início do pagamento, a mãe de Costa morreu e foi enterrada no local. Na lápide, há foto, data de nascimento e morte e flores artificiais -as naturais são proibidas para que a água parada não atraia o mosquito que transmite dengue.

"Não foi fácil pagar pelo jazigo, mas nunca cogitei deixar minha mãe na área da prefeitura", afirma Costa.

OUTRO LADO

A administração do cemitério, que faz escavações no terreno para construir novos jazigos pagos, reconheceu os problemas e afirmou que já está tomando providências, como a construção de um muro para impedir a entrada de animais.

A grama alta também começou a ser aparada.

Segundo o proprietário do local, que tem 100 mil metros quadrados e abriga 25 mil corpos, o valor pago pela prefeitura cobre apenas os gastos, e ele não lucra com o convênio. Também diz que as famílias recebem um caixão.

O coordenador de gabinete da Prefeitura de Francisco Morato, Antônio Benedito Pereira, disse que o local não era fiscalizado porque nunca houve reclamação.

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