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Minha História / Fabiana Passoni, 35

Três vezes Fabiana

Brasileira radicada nos Estados Unidos descobre ter câncer de mama antes de lançar primeiro CD, dá à luz trigêmeos e ganha prêmio de melhor cantora neste ano

(...) Depoimento a

JAIRO MARQUES
COLUNISTA DA FOLHA

RESUMO A cantora mineira Fabiana Passoni, 35, que foi para os EUA atrás de sucesso cantando jazz, enfrentou duas vezes o câncer nos últimos quatro anos. Venceu. Teve os trigêmeos Lylah, Leilah e Levi gerados a partir de embriões congelados.

Depois de ser mãe e ficar livre da doença, ela começa a fazer sucesso nos EUA, onde acaba de ganhar um prêmio.

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Fui na louca para os Estados Unidos, em 2000. Só tinha o meu sonho, que era cantar jazz. Não aguentava mais ficar em barzinhos lá em Poços de Caldas, cantando música sertaneja e axé.

Quando tudo estava encaminhado para eu deslanchar com meu primeiro CD, "É Minha Vez", depois de ter cantado muito em churrascarias, veio o diagnóstico de câncer no seio direito.

Notei algo errado no banho. Passei a toalha e havia um caroço no alto da mama. Jamais cogitei um nódulo cancerígeno. Para mim, era só um cisto comum.

Era julho de 2008 e estava de malas prontas para visitar a família no Brasil. Fui, mas prometi ao meu então namorado, o Randy [Randolph James], que iria a um médico examinar aquilo.

Quando me informaram que seria necessário fazer uma lumpectomia -retirada da parte afetada da mama-, Randy saiu de Los Angeles no primeiro voo para São Paulo. Ele teve uma intuição de que algo estava errado.

O COMEÇO DA LUTA

A biópsia apontou carcinoma invasivo. Lembro que o médico me deu um lenço e disse: "Chora tudo o que tem de chorar porque a partir de amanhã você tem de lutar."

No meio de toda aquela confusão, Randy me pediu em casamento e voltamos para os EUA, onde fiz o tratamento por seis meses.

Retirei as duas mamas, com medo de a doença voltar. Doei o cabelo, que amava, para uma instituição que faz perucas para crianças com câncer. Firmar-me como cantora ficou fora dos planos.

Nunca havia cogitado ter filhos. Mas os médicos me alertaram de que a quimioterapia poderia antecipar a menopausa, e eu perderia a chance de gerar bebês.

Quando você se depara com "é agora ou nunca", repensa valores. Congelamos 17 embriões e, três meses após a cura, resolvemos implantar dois deles, no final de 2009. Eu tinha 33 anos.

Pensava que se viessem gêmeos seria ótimo, mas um só estava de bom tamanho. Pois um dos embriões, justamente o que os médicos diziam ser o mais fraquinho, se dividiu em Lylah e Leilah, que se juntaram ao Levi.

No quarto mês de gestação, de altíssimo risco, notei um novo caroço na mesma região do primeiro câncer, mesmo não tendo mais a mama. Mas, para mim, pouco importava. Meus filhos eram prioridade absoluta. Tinha de dar um jeito de viver para cuidar deles.

Fiquei cinco semanas no hospital, em repouso, para a saúde dos bebês. Eles nasceram prematuros, aos seis meses, mas saudáveis. Foi em 8 de julho de 2010.

Meus filhos ainda estavam no hospital quando fui ao Brasil buscar minha mãe, que nunca havia entrado num avião e não fala inglês, para ajudar o Randy com eles.

Os médicos descobriram que o câncer havia voltado porque tinha origem hormonal. E, para ter os três, tive de injetar muito hormônio.

REFÚGIO CRIATIVO

Operei em setembro. Fiz 72 sessões de radioterapia e me curei novamente. Nunca me vi como vítima do câncer, porque eu consegui vencê-lo.

Durante um tratamento e outro, e a gravidez no meio de tudo isso, fui compondo as canções do meu segundo CD, "Naturalmente Brasil", que mescla ritmos brasileiros, pop e jazz. Era o meu refúgio para tantos momentos difíceis.

Há duas semanas, ganhei o prêmio "The International Brazilian Press Awards", como melhor cantora brasileira radicada nos EUA.

Minha música "Lovin' You" está entre as mais tocadas nos EUA no estilo smooth jazz. Sou muito grata por estar viva e na melhor fase da minha vida.

Ser mãe me fez melhor e me mostrou o que é de fato o amor. Tudo o que avanço é para meus filhos e para meu marido, um grande parceiro.

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