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Redação faz crítica cifrada a presença da PM na USP e a reitor

Em várias orações do texto, concorrente destacou letras que, juntas, formam a mensagem: 'Fora Rodas, fora PM'

Fuvest colocou redação entre as melhores, mas depois a retirou do site por considerá-la uma brincadeira indesejável

DARIO DE NEGREIROS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Fora Rodas", "Fora PM". Escondidas em letras negritadas espalhadas por diferentes palavras, essas duas frases de protesto podiam ser lidas em uma das 29 "melhores redações" escolhidas pela Fuvest em 2012.

O tema deste ano era "Participação política: indispensável ou superada?".

O candidato-manifestante se referia subliminarmente ao reitor João Grandino Rodas e ao convênio firmado no ano passado entre a USP e a Polícia Militar para patrulhamento do campus da capital.

Em novembro do ano passado, a reitoria foi invadida por alunos que questionavam a presença policial na USP.

De acordo com os manifestantes, a atuação da PM -que na semana anterior à ocupação havia detido três alunos com maconha- servia de pretexto para reprimir movimentos estudantis.

Em uma megaoperação com cerca de 400 policiais, cavalos e até helicópteros, a reitoria foi desocupada.

Na última quarta-feira, alunos, professores e funcionários protestaram contra a possível punição dos envolvidos na ocupação. Segundo os organizadores, o ato reuniu cerca de 500 pessoas.

A manifestação ocorreu no dia em que deveria acontecer a primeira audiência que, conforme a própria reitoria, pode resultar na expulsão de 51 estudantes por "danos ao patrimônio público".

Rodas enfrenta oposição de setores da USP desde sua eleição, em 2009. Apesar de ter sido apenas o segundo mais votado, ele foi o escolhido pelo então governador José Serra (PSDB). Foi a primeira vez que isso ocorreu desde 1981, quando Paulo Maluf escolheu o quarto mais votado.

"BRINCADEIRA"

As 15 letras que formam as frases de protesto estão espalhadas em nove linhas da redação e foram destacadas à caneta pelo autor.

Na quarta-feira passada, ela foi divulgada no site da Fuvest, que anualmente seleciona redações consideradas exemplares. Os nomes dos autores de cada prova não são divulgados.

O texto faz uma crítica à falta de participação política na contemporaneidade.

Segundo o autor, o indivíduo "tornou-se escravo dos setores da sociedade que originalmente foram criados para servi-lo" e "passou a colocar toda a sua vida nas mãos dos outros [...], abrindo mão do direito natural de tomar decisões e agir por si mesmo".

No fim de semana, o link para o texto começou a circular em redes sociais e, ontem, foi retirado do ar pela instituição. Agora, um espaço em branco ocupa o lugar da redação número 15.

Por meio de sua assessoria, a Fuvest afirmou que a redação foi considerada "de bom nível" e que os avaliadores "passaram por cima" das frases subliminares.

A assessoria classificou o ato como uma "brincadeira indesejável" e disse que a Fuvest decidiu suprimir o link para "não incentivar que outros façam brincadeiras desse tipo".

A reitoria da USP afirmou não ter feito qualquer pedido para que a Fuvest retirasse o texto do seu site. Sobre as mensagens de protesto, a reitoria não se pronunciou.

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