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Cidades inacabadas

País tem maioria das ruas iluminada, mas registra falta de calçadas acessíveis e esgoto a céu aberto

PEDRO SOARES
VENCESLAU BORLINA FILHO
DO RIO

De suas casas, a grande maioria dos brasileiros avistavam ruas iluminadas e pavimentadas e não tinham nas proximidades lixo ou esgoto a céu aberto, embora essa realidade não fosse compartilhada de modo igual por todas as regiões do país.

Esse é o retrato de 82,5% dos domicílios, conforme dados coletados pela primeira vez pelo IBGE no Censo 2010 e divulgados ontem.

Olhando sob uma outra ótica, ressaltada pelo próprio IBGE, em pleno século 21, 11% das moradias ainda conviviam com a ausência de saneamento e 5% delas com lixo à porta.

Outro dado importante é que, apesar de o país ser o berçou da floresta amazônica, 32% das casas não têm árvores em suas imediações.

"O Brasil ainda tem muito por fazer para melhorar essas condições ambientais do entorno de muitos domicílios. Elas são importantes porque estão diretamente ligadas à saúde da população", disse Wasmália Bivar, presidente do IBGE.

DISPARIDADE REGIONAL

Para Bivar, os dados revelam também uma "grande" disparidade regional. Nas regiões Norte e Nordeste, 32,2% e 26,3% dos domicílios tinham, respectivamente, esgoto a céu aberto em suas proximidades. A presença de lixo também era maior do que a média do país -7,8% e 6,5%, respectivamente.

De urbanização mais recente, o Centro-Oeste destacava-se com os melhores indicadores entre todas regiões.

"O Centro-Oeste foi ocupado em massa já na segunda metade do século 20. As cidades foram planejadas tomando por base os erros cometidos em outras regiões", diz Júlio Miragaya, economista do Conselho Federal de Economia e diretor da Codeplan (estatal de planejamento do Distrito Federal).

Além disso, são cidades menos populosas. "Ou seja, o problema é menor. São menos ruas para prover de esgoto, pavimentação e outros serviços", diz o economista.

A região beneficia-se ainda, diz, do avanço expressivo da renda graças ao agronegócio, que permitiu maior investimentos nas cidades.

Já na visão da presidente do IBGE, as diferenças regionais acompanham as disparidades de rendimento. Os dados apontam que quanto maior a renda melhores as condições do entorno dos domicílios brasileiros.

Um item, segundo ela, ilustra bem essa discrepância: a calçada. No país, o equipamento que facilita o acesso às casas e ajuda a impedir a invasão da água em temporais está presente na quadra em frente a 45% dos lares mais pobres (com rendimento per capita de até 1/4 do salário mínimo). Nos mais ricos (mais de 2 salários mínimos), esse percentual era quase o dobro (87%).

O IBGE levanta ainda um dado curioso: 40% dos logradouros não tem identificação, ou seja, grande parte dos brasileiros não sabe onde mora ou por onde anda.

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