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Análise / Geradores de tráfego

Emprego longe de casa dificulta o trânsito

Oportunidades de trabalho são criadas onde é caro morar e levam multidões a cruzar a cidade todos os dias

VAGUINALDO MARINHEIRO
DE SÃO PAULO

Na cidade dos sonhos dos planejadores urbanos, poucos moradores teriam de sair de sua vizinhança para trabalhar, comprar, se divertir, estudar.

Muito seria feito a pé. Carro seria um luxo, e haveria um bom transporte coletivo quando necessário.

Infelizmente, São Paulo é o avesso desse sonho.

A densidade populacional é grande onde não há emprego. Já o emprego, principalmente no setor de serviços, o que mais cresce, aparece onde morar é caro.

Resultado: multidões cruzam a cidade de manhã para ir ao trabalho e à noite para voltar para casa.

Segundo um estudo, a população do centro expandido de São Paulo (área de aproximadamente 150 quilômetros quadrados entre os rios Pinheiros e Tietê e que concentra a maioria dos empregos) teve queda de 13% em sua população residente entre 1997 e 2007. Nas áreas mais afastadas, houve acréscimo de 13%.

A situação se inverteu um pouco nos últimos anos, mas as distorções persistem.

Somados, os moradores das regiões central e oeste equivalem a apenas 36% dos que vivem na zona leste.

É o que explica a estimativa de que 3 milhões de pessoas, quase a população do Uruguai, se desloquem todo dia da zona leste para as demais.

Isso significa quilômetros de congestionamentos, ônibus, trens e metrô lotados.

Os dados levantados agora pela Folha sobre a distribuição de novos polos geradores de tráfego na cidade acrescentam mais um dado nessa distorção paulistana.

O bairro do Itaim Bibi, famoso por seus congestionamentos, é o recordista na construção desses polos.

Foram 72 concluídos ou aprovados de 2005 até este ano -10,6% do total. Desses, 43 (60%) são escritórios.

Como a grande maioria dos empregados desses escritórios não podem pagar o alto custo da moradia no bairro, a cidade ganha mais deslocamentos.

Para voltar à comparação com população, o Itaim sozinho, com 92,5 mil habitantes (dados de 2010), teve quase o mesmo número de novos polos de trânsito que a zona leste toda (89), região que abriga mais de 4 milhões.

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