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Pasquale Cipro Neto

"Meu reino por um parêntese"

Para saber se você acertou no emprego dos parênteses e no dos demais sinais de pontuação, imagine...

NA COLUNA de 3 de maio ("Quem é quem?"), tratei da má redação de um texto jornalístico, que exigia do leitor esforço desnecessário para a captação imediata da mensagem.

Relembro um trecho da coluna, que dei como sugestão de redação mais eficiente: "Beltrano de Tal, suspeito da morte de Fulano de Tal, diretor distrital da rede de supermercados XX, entregou-se nesta segunda-feira...". Como bem apontou um atentíssimo e especial leitor, essa redação ainda não era nenhuma maravilha, já que não deixava definitivamente claro a que elemento se referia a passagem "diretor distrital...". Em passagem posterior da tal coluna, fiz algumas observações que talvez tenham deixado clara a relação entre os elementos da história.

O fato é que acabei trocando algumas boas mensagens com esse leitor, que, como já afirmei, além de atentíssimo, é especial (trata-se de alta figura da República, daqueles que integram a chamada reserva moral do país -não o nomearei porque não lhe pedi licença para isso). Na primeira mensagem que lhe escrevi, afirmei o seguinte: "...bastava ter usado os parênteses para evitar qualquer problema". Resposta do caro leitor (que, entre outras nobres atividades, exerce a de escritor): "Meu reino por um parêntese. Claro que ficou ainda melhor".

Pois vamos ver como fica o tal trecho com os parênteses: "Beltrano de Tal, suspeito da morte de Fulano de Tal (diretor distrital da rede de supermercados XX), entregou-se...". Agora não há mesmo nenhuma dúvida sobre quem é quem.

O emprego dos parênteses exige a abertura de algumas "chaves" durante a escrita e a leitura, já que, depois de ler o que fica dentro desses sinais de pontuação, é preciso conectar o termo seguinte à passagem anterior. Tomemos como exemplo o próprio trecho que mencionei e que agora relembro: "Beltrano de Tal, suspeito da morte de Fulano de Tal (diretor distrital da rede de supermercados XX), entregou-se...". Os parênteses obrigatoriamente vinculam o que está dentro deles ao termo anterior, ou seja, vinculam "diretor distrital" a "Fulano de Tal".

Volte ao parágrafo anterior. Notou a presença de uma vírgula depois do segundo parêntese, aquele que fecha a expressão "diretor..."? Por que essa vírgula? O que vou dizer agora vale para todos os casos em que se empregam os parênteses. Vamos lá. Para saber se você acertou no uso dos parênteses e no dos demais sinais de pontuação (vírgula, travessão etc.), faça o seguinte: imagine que os parênteses queiram "abraçar-se" ou "beijar-se". A vontade é tanta que um sai ao encontro do outro, pulverizando o que há entre eles. Quando se encontram, saem de mãos dadas pelo mundo e abandonam o texto em que estavam. Pois bem. O que sobrou tem de fazer sentido, manter a estrutura etc.

Faça isso com o trecho que citei. Sobra isto: "Beltrano de Tal, suspeito da morte de Fulano de Tal, entregou-se...". Deu certo, não? Note que, quando se usam os parênteses, a vírgula que se põe depois de "suspeito da morte de Fulano de Tal" vai para depois do segundo parêntese.

Agora vejamos outro exemplo: "Katmandu (capital do Nepal), recebe anualmente milhares de turistas". Se os parênteses pulverizarem o que há entre eles e depois sumirem na bruma, o que sobra? Sobra isto: "Katmandu, recebe anualmente...". Que tal a vírgula? Fulmine-a, já que ela separa (erroneamente) o sujeito do verbo. A forma correta é esta: "Katmandu (capital do Nepal) recebe anualmente...". Seria possível também trocar os parênteses por duas vírgulas: "Katmandu, capital do Nepal, recebe anualmente...". É isso.

inculta@uol.com.br

AMANHÃ NA FOLHA
Barbara Gancia

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