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Minha História / Alexandre da Silva Fonseca Santos, 32

De herói a vilão

Ele sobreviveu ao desabamento dos prédios no Rio; hoje é apontado nas ruas como o culpado

RESUMO
No dia 25 de janeiro, o auxiliar de pedreiro Alexandre da Silva Fonseca Santos, 32, nasceu de novo ao sobreviver dentro do elevador do edifício Liberdade, que desabou com outros dois prédios, no centro do Rio.
Quatro meses depois da tragédia que deixou 19 mortos e três desaparecidos, Santos e mais seis pessoas foram indiciadas pela Polícia Federal sob suspeita de serem os responsáveis pelos desabamentos. Entre elas, mais três operários que, como ele, trabalharam na obra executada no nono andar do edifício Liberdade.

(...) Depoimento a

MÁRCIO MENASCE
DO RIO

"Nunca imaginei que o trabalho que eu estava fazendo pudesse provocar uma coisa dessas [ser indiciado pela Polícia Federal como um dos suspeitos de terem causado o desabamento]. Não tenho formação em obras e nem pedreiro eu sou. Era apenas o ajudante de pedreiro.

Não tinha como eu saber que poderia derrubar um edifício. Nem eu nem os meus colegas que trabalhavam na obra, tanto é que quando achamos algumas ferragens ao quebrar uma parede, chegamos a perguntar para a Cristiane [Cristiane Amaral, funcionária da empresa TO, onde era feita a obra] se havia um engenheiro responsável. Ela dizia que um engenheiro iria lá, mas nunca foi.

CONSTRANGIMENTO

Desde que a polícia disse que eu fui indiciado, as pessoas nas ruas apontam para mim, dizem que eu sou o rapaz que derrubou os prédios. Estão me taxando como assassino, mas eu sou inocente e vou provar isso.

Já tive que ir à escola do meu filho de 13 anos para conversar com a diretora. Ele estava sofrendo bullying na escola. Chegou em casa um dia chorando, porque os coleguinhas diziam que o pai dele ia ser preso.

DECISÃO DA PF

Não acho que a polícia esteja errada. Eu e meus colegas trabalhávamos na reforma da TO. Se foi a obra que derrubou os edifícios, então logicamente seríamos indiciados pela polícia.

Acho que a TO é que tem que ser responsabilizada. Não pode fazer obra sem engenheiro.

FUTURO

Estou preocupado e muito triste. Tenho meus filhos para criar [três meninas e um menino]. Posso ser preso por uma coisa da qual não tive culpa. Só estava trabalhando, correndo atrás do sustento da minha família.

Desde janeiro eu estava desempregado, comecei a trabalhar há uma semana como ajudante de caminhão em um frigorífico, ajudo o motorista a fazer as entregas. Tenho medo desse processo me prejudicar também no novo emprego que arrumei.

Acho que ter ficado conhecido por trabalhar na obra da TO pode ter me prejudicado para conseguir outro emprego em construção.

Talvez as empresas não quisessem me contratar porque sabiam que eu estou envolvido nesse episódio.

SOBRE A OBRA

Trabalhei na reforma da TO durante duas semanas e três dias, até o momento em que o prédio desabou. Quando comecei o trabalho, já tinham aberto algumas janelas e o piso já havia sido retirado para ser trocado.

Como ajudante de pedreiro, meu trabalho era preparar a massa para assentar os tijolos, carregar os tijolos para o pedreiro e algumas outras coisas.

Eu já havia trabalhado fazendo esses serviços algumas vezes, porque não estava conseguindo outros empregos com auxiliar de escritório ou vigia, que é o que eu estou acostumado a fazer.

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