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Paulistano desperdiça 17 dias por ano no trânsito

Tempo usado entre deslocamentos daria para assistir a 267 filmes no cinema

Trabalho longe de casa, frota recorde de carros e transporte coletivo precário favorecem travamento da cidade

Adriano Vizoni/Folhapress
Alberto, marido de Sueli, orienta a filha na lição enquanto a mãe não chega
Alberto, marido de Sueli, orienta a filha na lição enquanto a mãe não chega

RICARDO GALLO
DE SÃO PAULO

Gabriel, 7, e Larissa, 10, já assistiram a "Carrossel", brincaram, jantaram (o pai preparou a comida: arroz, feijão, nuggets e linguiça), fizeram a lição de casa e nada de a mãe chegar.

Passa das 20h40 de quinta e a executiva Sueli Dias e Silva, 44, ainda está no trânsito de São Paulo.

É no trânsito que Sueli, diretora financeira de uma multinacional, gasta boa parte de seu tempo. São ao menos duas horas por dia, ou 400 horas por ano (a considerar cerca de 200 dias trabalhados), algo como 17 dias do ano -ou 267 idas ao cinema.

"É muito tempo. Chego em casa cansada. Não consigo fazer academia, ficar com os meus filhos." Ela trabalha na Berrini, principal centro empresarial da cidade, na zona oeste, e mora a 23 km dali, no Tatuapé, na zona leste.

Enquanto a vida corre, a executiva está parada no trânsito, o que, em São Paulo, a torna mais regra do que exceção: pesquisa do IBGE divulgada em abril aponta que, tal qual Sueli, um a cada quatro moradores da cidade perde entre uma e duas horas ao ir para o trabalho, de carro, ônibus ou metrô -sem contar o tempo da volta.

Há quem se adapte: Sueli decidiu ficar mais no escritório até passar o rush da tarde. Fernando Cardoso, 28, relações públicas, usa as duas horas que passa no carro para estudar idiomas -já fez inglês e francês dessa maneira.

"Minha maior angústia é quando calculo o tempo perdido. Perco umas dez horas no trânsito por semana. São horas mortas, em que dava para fazer academia, um curso de aperfeiçoamento... é um tempo jogado no lixo."

Não há uma única explicação para o fenômeno. Crescimento desordenado da cidade (que deixa o trabalhador longe do emprego), mais carros na rua, aumento de passageiros no metrô... Tudo contribui para o caminho estar mais lento e a sensação de tempo perdido, maior.

Na última sexta-feira, a cidade bateu recorde de congestionamento: 295 km.

LONGE DE CASA

Exemplo extremo de morar longe é Ester Mucci, 24, que perde seis horas todos os dias no trajeto casa-trabalho-casa, o que lhe permitiria ir ao Rio de ônibus -um pouco menos que as nove horas de jornada na agência de marketing em que é redatora. Ela perde 50 dias do ano -mora na Cidade Tiradentes, extremo leste, e trabalha a 50 km, em Santo Amaro, zona sul.

Para isso, pega ônibus, trólebus, trem, metrô, ônibus de novo e anda. Pelo caminho, lê livros, ouve música e, ultimamente, estuda inglês.

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