Santos tem prédio com inclinação de até 1,80 metro

Levantamento inédito realizado pela Prefeitura de Santos mostra que 65 dos famosos prédios tortos da orla da cidade têm inclinação considerada grave -entre 0,5 e 1,8 metro.

Segundo o secretário de Infraestrutura e Edificações, Antônio Carlos Silva Gonçalves, os valores são considerados preocupantes.

Isso não significa, porém, que os prédios serão interditados ou mesmo demolidos.

O mais provável é que parte deles tenha apenas que ser "endireitada", como já aconteceu com o Conjunto Nuncio Malzoni.

"Mas também podemos constatar que não será preciso fazer nada em alguns prédios, porque ainda aguentarão muitos anos do jeito que estão", afirma Gonçalves.

As medições começaram em 2008. Foram avaliados 651 edifícios -tortos ou não- localizados ao longo da orla de Santos, da divisa com São Vicente até o final do bairro Ponta da Praia.

Agora, a prefeitura fará uma avaliação do projeto estrutural dos 65 prédios com inclinação grave e, caso considere necessário, vai exigir que o condomínio contrate um estudo técnico para avaliar se a estrutura está mesmo comprometida.

AREIA E ARGILA

O principal causador da inclinação dos prédios é a composição do solo de Santos. Formado por camadas intercaladas de areia e argila, ele é considerado mais "mole", explica o professor da Poli-USP Carlos Eduardo Maffei.

Mas a pressão exercida por prédios construídos na vizinhança também ajuda a entortar ainda mais.

O ideal é que as fundações dos edifícios cheguem até a camada de rochas, que, nessa região, está a cerca de 50 metros de profundidade.

Entre os anos 1950 e 1970, porém, para economizar, as construtoras faziam fundações com apenas 4 ou 5 metros.

DESVALORIZAÇÃO

Apesar de chamar a atenção de quem passa pela orla santista, os prédios tortos são uma grande dor de cabeça para parte de seus moradores.

Móveis com calço, chão nivelado e vista inclinada da varanda são muito comuns, mas o principal problema é a desvalorização do imóvel.

É essa, aliás, a justificativa da maioria das pessoas para não querer falar sobre o assunto.

Ao tentar conversar com moradores e síndicos sobre como é viver em um desses apartamentos, o que a reportagem mais ouviu foi: "Não falo sobre isso porque desvaloriza ainda mais o prédio".