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Karakin Seraidarian (1926-2012)

Um filho de refugiados armênios

ESTÊVÃO BERTONI
DE SÃO PAULO

A família, no começo, se opôs ao relacionamento.

Karakin Seraidarian, na época em que trabalhava numa confecção em São Paulo, conheceu pelo telefone Diva, funcionária de uma tinturaria que prestava serviços para seu empregador. O problema estava em ela ser filha de italianos, e ele, de armênios.

Para alguém de sua origem, o normal seria escolher e se casar com uma moça da própria comunidade. Seu pai acabou aceitando o fato: "Vamos terminar com isso: se eles se gostam, que se casem". Casaram-se e tiveram três filhos.

Karakin, ou Kim, como era chamado, nasceu em Aleppo, na Síria. Seus avós paternos foram assassinados durante o genocídio iniciado em 1915 pelos turco-otomanos, que levou à morte cerca de 1,5 milhão de armênios. Já os avós maternos -assim como seus pais- refugiaram-se.

Aos dois anos, veio a São Paulo, onde o pai foi trabalhar com sapatos. Kim começou como office-boy na confecção. Aos 28 anos, conseguiu abrir a gráfica Primor.

Manteve o negócio até cerca de dez anos atrás, quando fechou a empresa. Continuou, porém, no mesmo ramo, mas como autônomo.

Era um homem culto, que adorava ler sobre história, geografia e política, como lembra a filha Ana Maria. Segundo ela, o pai até o fim da vida envolveu-se no movimento que luta pelo reconhecimento do genocídio pela Turquia.

Muito religioso, ia todos os domingos à Igreja Apostólica Armênia do Brasil, na av. Santos Dumont, em São Paulo.

Ficou viúvo em 1978 e, desde então, costumava levar flores ao túmulo da mulher. Em 2010, a filha Célia morreu de câncer, mesma doença que o matou na terça-feira (5), aos 86 anos. Deixa cinco netos.

coluna.obituario@uol.com.br

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